Calouros

23/2/2010
Jeremias Alves Pereira Filho - advogado em São Paulo

"Eu também fui calouro e levei trote (Migalhas 2.330 - 22/2/10 - "Calouros" - clique aqui). Fui veterano e dei trote. Fui Presidente do Diretório Acadêmico da faculdade de Direito da UPM e administrei o trote. O trote sempre se prestou a integrar o novo acadêmico entre os seus pares, bem como para marcar o início de uma decisiva etapa da vida do estudante, talvez a última, quem sabe a primeira. Afora isso, o trote servia para despertar ou estimular no calouro o espírito de solidariedade humana, levando-o a participar de campanhas sociais as mais diversas, como arrecadar fundos ou alimentos para instituições assistenciais, prestar pequenos - porém grandes – serviços à comunidade, como ensinar simples habilidades manuais, formar bibliotecas primárias, ensinar higiene básica, etc. Com o tempo passando, o trote tornou-se um reflexo da nova ordem: violento, insano, desumano, humilhante e letal. Os veteranos atuais – não todos – vêem nos calouros um objeto para extravasar sua ira enrustida, sua falta de educação e civilidade. Tratam-no como um verdadeiro bicho. Não o 'bixo', sinônimo de calouro, mas o animal que, aliás, também não merece esse tipo de tratamento. Nos últimos anos a imprensa tem noticiado com destaque tragédias sofridas por calouros durante o trote violento, muitos pagando essa 'brincadeira' com a própria vida. Um país tão carente de cultura não pode perder vidas promissoras, absolutamente. Uma família feliz não pode perder um filho dessa forma... Esse alarde todo serviu para chacoalhar de vez a sociedade e suas instituições, agora verdadeiramente preocupadas e firmes na reação contra o trote violento. Em São Paulo todas as grandes universidades aderiram ao 'trote solidário', não apenas no papel ou na filosofia, mas sim com ações pontuais e definitivas. A USP criou o 'disque-trote', através do qual o calouro pode denunciar o trote abusivo.  A PUC criou os 'anjos da guarda', contratando artistas para se infiltrarem entre calouros e veteranos, fantasiados de mágicos, personagens diversos, etc. O Mackenzie determinou ao seu corpo docente participar ativa e exaustivamente das atividades programadas para o 'trote solidário', visando criar uma nova cultura no meio acadêmico. A FMU também aderiu, assim como tantas outras. Todas, sem exceção, estabeleceram critérios rígidos de punição disciplinar, sem prejuízo da possibilidade de encaminhamento do respectivo processo administrativo às autoridades policiais para eventual instauração de inquérito criminal. Bebidas alcoólicas e atos de vandalismo dentro dos 'campi' estão sob tolerância zero. É isso mesmo! Não dá mais para só contemplar! É preciso voltar ao passado para possibilitar o futuro. O trote tem – e precisa ter - o caráter de integração e confraternização entre os 'bixos' e os veteranos. Todos juntos devem se reunir nessa festa ímpar e marcante, para levá-la com gestos solidários aos menos afortunados e que hoje ainda dela se acham excluídos."

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