Mulheres e o mercado de trabalho

1/3/2010
Claudia Corrêa

"A felicidade é desprezada por muita gente. A pessoa feliz sofre o preconceito de parecer uma pessoa vazia, sem conteúdo (Migalhas 2.335 - 1/3/10 - "Mulheres e o mercado de trabalho" - clique aqui). No entanto, algo ela tem, senão não incomodaria tanto. Será que é porque ela nos confronta com nossa própria miséria existencial? Para algumas pessoas, é irritante ver alguém naturalmente linda, rica, simpática, inteligente, culta, talentosa, magra, e ainda por cima correspondida afetivamente! Essa ninfa nunca ouviu falar em insônia, depressão, saudade, dívidas, mousse de chocolate? Os felizes ainda estão associados ao padrão 'comercial de margarina', portanto, costumam ser idealizados - e, infelizmente, desacreditados. É como se fossem marcianos, só que não são verdes. Por isso, damos mais crédito aos angustiados, aos irônicos, aos pessimistas. Por não aparentarem possuir vínculo com essa tal felicidade, dão a entender que têm uma vida muito mais profunda, real. Realidade e felicidade, será que misturam? Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque felicidade é coisa bem diferente do que ser linda (o), rica (o), simpática (o) e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar (ou por causa) disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente em estar vivo. Li certa vez em uma revista, sobre um psicanalista que disse uma frase que sublinhei: 'Ser feliz não é tão importante, mais vale ter uma vida interessante'. Creio que ele estava rejeitando justamente esta busca pelo kit felicidade, composto de meia dúzia de realizações convencionais e impostas pelos outros. Ter uma vida interessante é outra coisa: é cair e levantar, se movimentar, relacionar-se com as pessoas, não ter medo de mudanças, encarar o erro como um caminho para encontrar novas soluções, ter a cara-de-pau de se testar em outros papéis - e humildade para abandoná-los se não der certo. Uma vida interessante é outro tipo de vida feliz: a que passou ao largo dos contos de fadas. É o que faz você ter uma biografia com mais de 10 páginas. Se você acredita que ser feliz compromete seu currículo de intelectual engajado, troque por outro termo, mas não cuspa neste prato. Embriague-se de satisfação íntima e justifique-se dizendo que é um louco, apenas isso. Como você sabe, os loucos sempre encontram as portas do céu abertas. Rita Lee, que já passou por poucas e boas, mas nunca se queixou de não ter uma vida interessante, anos atrás musicou com Arnaldo Batista estes versos: 'Se eles são bonitos, sou Alain Delon/ se eles são famosos/ sou Napoleão/se eles têm três carros/ eu posso voar'. Também faço da Balada do Louco meu hino sobre a felicidade, que assim encerra: 'Mais louco é quem me diz que não é feliz'. Eu sou feliz!"

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