Multa

26/3/2010
Carlos Rigó

"Há alguns anos um promotor público me ofereceu carona no seu automóvel, pois íamos, ambos, para Cabo Frio. Durante o trajeto, em meio às amenidades que conversávamos, notei, apreensivo, que o jovem motorista dirigia em velocidade muito acima da recomendável pela prudência, já nem digo pelas leis de trânsito. Explicou-me então que acumulava duas comarcas e que deveria voltar ainda naquela tarde para outro júri. Alguns quilômetros adiante veio o apito do guarda, talão de multas na mão e tome autuação por excesso de velocidade, além da reprimenda do zeloso oficial do DNER, porque estava diante de alguém que tinha, como fiscal da lei, o dever de dar o exemplo. Sem pestanejar, o jovem parquet, de olho no relógio disse muito sério para o policial para tirar de uma vez duas multas porque dali a pouco, ao voltar para concluir o seu dia de trabalho, com certeza passaria por ali em alta velocidade e assim já ficavam quites, sem mais perda de tempo. Não preciso alertar para o fato de que, à época, as multas eram irrisórias e estimulavam, por isso mesmo, a transgressão. Este episódio, inesquecível por demonstrar a ineficácia das sanções que não punem absolutamente nada, antes incentivam o desrespeito à lei, me veio à mente hoje pela manhã quando li nos jornais que o Presidente Lula, em Osasco, ao incitar a multidão a gritar o nome da Ministra Dilma, sem lhe mencionar o nome, após o estrondoso e obediente apupo, em tom de galhofa, ameaçou: 'Se for multado vou trazer a conta para vocês'. Não há dúvida alguma de que agiu como o guarda da história acima, só que o fez tendo como interlocutor o TSE. Por outro lado é forçoso reconhecer neste episódio de Osasco que o nosso líder nunca foi tão verdadeiro. Afinal, quem sempre paga a conta é a patuleia."

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