Balcão de negócios

13/4/2005
Plínio Zabeu

"Na política brasileira sempre – ou quase sempre – trocam-se e vendem-se influências, cargos, posições, apoios, maioria legislativa etc., com o maior descaramento possível. Nem se cuida mais de esconder algo. Nem se procura dar explicações plausíveis para certos atos. Mesmo porque o povo todo está já suficientemente escolado e nem leva mais em consideração tanta conversa. O governo atual – renegando tudo o que pregava – faz exatamente aquilo que esperávamos não mais acontecesse no país. Expressiva maioria de eleitores votaram confiantes em mudanças que afinal não vieram. Desde o início, o presidente que sempre se gabou de ser um exímio negociador – no bom sentido, pensávamos – logo tratou de organizar seu ministério e base parlamentar. Seu partido detinha um número considerável de deputados (quase 100), mas não uma maioria folgada. Aproximou-se logo de partidos que de há muito deixaram para trás seu passado, tornando-se presas fáceis de manipulação, desde que, claro, houvesse compensação. Hoje, membros mais sérios de um desses partidos, se manifestam desgostosos, contrariados com o perfil atual. Nem se pensa mais em candidatos próprios para cargos de direção. Para colocar seus correligionários – partidários  recusados pelos eleitores – logo criou secretarias e ministérios. Muitos cargos surgiram do nada e muita substituição sem levar em consideração capacidade e sim filiação partidária. Fala-se em cifras assombrosas: Coisa de mais de 50 mil novos funcionários. Todos comissionados. Cargos de confiança. Muitíssimo bem remunerados. Logo no início um grande escândalo envolvendo gente muito próxima do presidente. O cadáver de um prefeito pesava muito mais do que se poderia pensar em matéria de irregularidades. Precisava o governo de um sepultamento imediato não só do morto, mas principalmente do assunto. E assim, ambos os casos foram devidamente encobertos, graças à manobra do presidente do Congresso, exímio profissional na área. Mas isso tudo foi para o “livro caixa”. Exatamente. Um livro onde constam colunas de Débito, Crédito e Saldos.  E o governo terá que saldar todas as dívidas contraídas. As nomeações continuam.  A tentativa de uma reforma ministerial deixou o presidente numa situação incrivelmente difícil, como jamais houvera acontecido antes. Deputados gritavam ao microfone pra todo mundo ouvir: “Nomeia este ou mudo de lado!”. Outros indicaram ministros. Um deles até assumiu sem que o próprio presidente soubesse de seus antecedentes, só tomando conhecimento depois através da imprensa. A eleição para presidência da Câmara mostrou claramente um estado de coisas que realmente nos preocupa muito. E nada bom para a pretensão de Lula. E não foi por outro motivo que decretou “estado de calamidade pública” na assistência à saúde no Rio de Janeiro, como se tal situação não fosse comum em todos os rincões do Brasil. Por quê só no Rio? O motivo real foi o prefeito carioca ter se candidatado a presidente. Esperemos mais "negócios"..."

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