Gramatigalhas 25/11/2010 Sílvio Darci da Silva - OAB/RJ 45.265 "Prezados amigos. Gostaria de propor ao Professor e Doutor José Maria da Costa a seguinte questão : de acordo com as novas regras de ortografia (e não com o pensamento pessoal de alguns gramáticos), qual é a forma correta : sub-rogar ou subrogar ? Entendo que a matéria está coberta por um acordo internacional, que foi promulgado pelo Brasil, através do decreto 6.583, de 29/9/08, e que a Constituição Federal garante que o Brasil respeitará os tratos internacionais de que for parte (CF/88, 5º, § 2º). Confesso que, como conhecedor da língua portuguesa, não concordo com um muitas de novidades introduzidas pelo acordo, que reputo, com todo o respeito, um monte de idiotices que, ao invés de facilitarem, só vieram complicar — mas, obedeço, por ser fruto de acordo internacional, promulgado pelo Presidente da República e protegido pela Constituição Federal ! E eu esperava que os gramáticos e dicionaristas (que não são deuses, nem 'donos' da língua) adotassem uma similar disposição mental. Até porque, inventar palavras e regras é coisa muito fácil; o difícil é seguir as regras realmente existentes ! Agora, voltando atenção ao caso específico do prefixo 'sub' (e de 'subrogação'), as novas regras de ortografia são claras em ditar que este prefixo só atrai o hífen se o segundo elemento do composto começar por 'h'. Isto está mais do que evidente no § 1º da Base XVI do acordo que, claramente, determina : 1º) Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ... sub-, ... só se emprega o hífen nos seguintes casos : a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h : anti-higiénico/anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-harmónico/contra-harmônico, extra-humano, pré-história, sub-hepático, super-homem, ultra-hiperbólico; arqui-hipérbole, eletro-higrómetro, geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar. [não é o caso de 'subrogação', mas é, por exemplo, de 'sub-hepático'] Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial : desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc. [nada tem a ver com 'sub'] b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento : anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno. [nada tem a ver com 'sub'] Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o : coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc. [nada tem a ver com 'sub'] c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea a): circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, pan-mágico, pan-negritude. [nada tem a ver com 'sub'] d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista. [nada tem a ver com 'sub'] e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei. [nada tem a ver com 'sub'] f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró- quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte) : pós-graduação, pós-tónico/pós-tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover). [nada tem a ver com 'sub']. A verdade insofismável é que não há, no inteiro acordo recém-promulgado qualquer indicação que 'sub' deva levar hífen antes de compostos cujo segundo elemento comece por 'r' (ou mesmo por 'b'). O que parece ter acontecido é que alguns gramáticos e dicionaristas estavam tão acostumados à regra do artigo 46, § 5º, letra 'e', do acordo de 1943 que se esqueceram de atentar para o fato de que tal regra foi derrogada pelo novo acordo. Trata-se, no meu entender de estudioso da língua pátria, de um indesculpável equívoco de alguns gramáticos, que conseguiram levar outros ao mesmo erro, ao ponto de infestar os dicionários com evidentes e abundantes erros de grafia. O Dicionário Escolar Aurélio (o primeiro editado após a recente reforma) chegou, timidamente, a grafar 'subrogar', mas a mais recente versão do dicionário principal indica 'sub-rogar', como o faz o Dicionário Houaiss, dentre outros. Interessante é que, embora estes dicionaristas entendam haver problema em 'subrogar', eles fingem que não percebem a mesma dificuldade em, por exemplo, 'sublocar'. Mais interessante, ainda, é que em latim o vocábulo é grafado 'subrogare'. Também vale mencionar que o inglês americano grafa 'subrogate' (o inglês britânico prefere 'surrogate'), o francês escreve 'sobroger', o espanhol usa 'subrogar', o alemão grafa 'subrogare', etc. Aliás, embora eu não tenha tido tempo para fazer uma pesquisa, parece-me que só em escritos da língua portuguesa é que se vê um hífen entre o prefixo 'sub' e o segundo elemento do composto. Se não há problema no original latino, no saxônico inglês, no germânico alemão, no aparentado francês e no praticamente irmão espanhol, por que só nossos gramáticos lobrigam uma 'imensa' e 'terrível' dificuldade na ausência do hífen ? Não obstante, volta e meia se vê balelas do tipo que a ausência do 'hífen' poderia causar uma diferenciação na pronúncia do erre por parte dos menos entendidos. Nesse caso, o que dizer de expressões como : 'eu ontem argui que ..., enquanto que hoje ele argui que...' ? Por que não se rebelar contra esta, sim, monstruosidade linguística ? Portanto, a desculpa da pronúncia do erre é inaceitável e até incoerente. É o mesmo que 'coar mosquito e engolir camelo' ! E, além do mais, não há como algum gramático, que insiste em a língua portuguesa ser diferente das outras, e que se volta até mesmo contra a grafia da língua original (o latim) vir com a ingênua alegação de que os elaboradores do recém-promulgado acordo da língua portuguesa, cuidadosamente 'trabalhada' por muitos anos, tenham-se 'olvidado' do pobre 'sub', e que a subtração do hífen em palavras como 'subrogar' foi um 'esquecimento'. 'Fala sério !', como diriam alguns ! Em suma, a questão que eu proponho ao ilustre Professor José Maria da Costa é : deixando de lado pensamentos pessoais de gramáticos e de dicionaristas (eu também tenho um monte deles !), e outros sofismas linguísticos ou não, mas baseando-se unicamente nas novas regras de ortografia promulgadas por decreto Federal, deve-se grafar 'sub-rogar' ou 'subrogar' ? Fico deveras agradecido tanto ao pessoal do Migalhas como ao Professor José Maria da Costa pela atenção dispensada. Um forte abraço a todos !" Envie sua Migalha