Exame de ordem

17/5/2005
José Cretella Neto - escritório Cretella Advogados

"Prezados amigos do Migalhas. Sua notícia de ontem (Migalhas 1.168 – 16/5/05):

Exame de ordem - Apenas 12,21% dos candidatos foram aprovados na primeira fase do último exame da OAB/SP, divulgado ontem. 

Não surpreende. As faculdades de Direito, especialmente as particulares, estão numa feroz concorrência mercadológica, que se traduz em prejuízos aos alunos. Esclareço: como existem mais vagas disponíveis do que interessados, nas mais de 200 faculdades do Estado de S. Paulo, e a inadimplência, em algumas delas, chega a 35 % das classes, estão em plena "guerra de preços", com algumas faculdades anunciando em outdoors o valor das mensalidades; outras colocam renomados esportistas nos outdoors, também (eles, que ou nunca fizeram faculdade ou mesmo, nem precisem de um curso superior). Relembro: As melhores universidades do mundo enfatizam os Prêmios Nobel, ou Pulitzer, ou ainda, Goncourt, dos professores que lá ministram cursos. Mais: as faculdades de Direito de S. Paulo mandam embora os doutores, pois, para poder "fechar as contas", pois é mais barato pagar mestres ou especialistas (o MEC diz apenas que "1/3 do corpo docente deve ser constituído por mestres e doutores" - mas não estipula a proporção entre eles). Nas salas de aula, reina enorme balbúrdia, com alunos entrando e saindo a qualquer momento, desrespeitando professores e impedindo que a maioria do alunato - que paga e precisa do diploma - aprenda. As faculdades, com medo de perder alunos, não prestigiam os Professores, que são humilhados nas salas de aula. Em relação aos cursos jurídicos, tudo funciona como um Código de Defesa do Consumidor às avessas: "pago mas quero a pior qualidade possível de ensino", sem reprovações, sem trabalhos, sem estudo. Querem professor bonzinho, que dá tapinhas nas costas e não exige nada dos alunos. Forma-se o pacto da mediocridade: o aluno finge que estuda, o professor finge que ensina e a faculdade finge que dá um diploma. A OAB não tem poderes para fiscalizar as faculdades e nem vetar a abertura de novas. Seu parecer é meramente "consultivo". Deveria abster-se de opinar e participar desse bordel junto ao MEC, o qual tornou o ensino jurídico no País uma vergonha. E continuar a aplicar exames rigorosos e a divulgar amplamente os resultados obtidos pelas faculdades - quem sabe estas deixem de enganar os alunos e melhorem o ensino?"

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