Advocacia 9/9/2005 Melissa Ayres Bertolaccini Abad "Questionamento: O que pensam os velhos profissionais do direito sobre os novos profissionais? Por que há preconceito? Primeiramente, gostaria de parabenizar os criadores e redatores do Site Migalhas, pelo grande trabalho de divulgação de informação e prestação de serviço junto à comunidade jurídica. Descobri referido site através do Ilustríssimo Doutor Professor Rubens Approbato Machado, o qual o mencionou à platéia de causídicos quando ministrava a primeira aula do curso sobre a Lei 11.101/2005 - Nova Lei de Recuperação Judicial e de Falências na Escola Superior de Advocacia - ESA. Foi assim que me tornei freqüentadora assídua do site, e, acompanhando diariamente notícias e matérias nele publicadas, verifiquei que fazem parte dos fomentadores e apoiadores, não só os maiores e mais bem conceituados escritórios de São Paulo, como também de outras capitais, cujos fundadores são figuras ilustres e propagadores de conhecimento dentro do mundo jurídico. Assim, é através desta poderosa ferramenta, que venho expressar minha indignação ao que após análise intrínseca da situação, diagnostiquei como sendo preconceito. Sim, preconceito de alguns grandes escritórios de advocacia contra estagiários, bacharéis, e advogados formados por faculdades que não sejam as tradicionais PUC, USP e Mackenzie. Preconceito é vocábulo definido pelo dicionário como sendo: "1. Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que as conteste; prejuízo..." Diante de tal significado, concluo assim, que há a opinião formada de que somente o profissional formado pelas faculdades supra mencionadas, estão aptos e são considerados capazes para conseguirem uma colocação no mercado, somente estes podem e são dignos de uma chance para brilharem no céu cravejado de infinitas e grandiosas estrelas. Referida situação é lastimável, a imediata exclusão e desmerecimento dos demais profissionais, sem qualquer chance de contestação, não afronta só a essência subjetiva da personalidade humana, mas cria de forma substancial um problema social, marginalizando inclusive a brilhante carreira jurídica, na medida em que muitos profissionais, para exercerem suas profissões se vêem impelidos a aceitarem condições extraordinárias na jornada e na relação de trabalho, subordinados a salários baixíssimos. Nestes anos de formada, tive a oportunidade de trabalhar com colegas advogados inteligentíssimos, imbuídos de raciocínio lógico- jurídico memoráveis, formados tanto pelas tradicionais faculdades já mencionadas, como também por outras, à exemplo de Unicsul, FMU, Faculdade de São Bernardo do Campo, Faculdade São Judas, Faculdade de Guarulhos e outras tantas. Em momento algum desmereço as maravilhosas faculdades PUC, USP e MACKENZIE, reconheço a tradição das mesmas, e o grande ensino ministrado por seus Ilustres Doutrinadores, como também o brilhantismo de seus alunos e ex - alunos, os quais certamente ocupam lugares de destaque junto à nossa sociedade, mas peço reflexão e ajuda destes grandes causídicos com as questões levantadas, principalmente porque o estudante de direito não tem culpa da propagação indiscriminada das faculdades pelo país, que se tornaram rentáveis máquinas de fazer dinheiro. Questiono se com essa exigência tais profissionais e escritórios realmente entendem o cenário econômico de nosso país, onde a desigualdade social é predominante e atinge brutalmente nosso sistema educacional? Onde está a função social de nosso profissional? Qual o futuro da advocacia? Considerando que apesar de proporcionalmente serem poucos os que passam no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, milhares são os profissionais lançados todo ano no mercado de trabalho cada vez mais enxuto e restrito e agora não só pelas poucas oportunidades, mas também pelo preconceito. Por fim deixo aqui minha indignação com esse pré - julgamento que desde os tempos de faculdade eu enfrentava, e, que agora retornando ao Brasil, verifiquei que ainda persiste injustamente, principalmente porque o bom profissional não depende da faculdade em que ele se formou, e sim, do interesse deste pelo conhecimento jurídico, pelo desenvolvimento de uma boa retórica argumentativa, raciocínio jurídico – lógico, e, até mesmo, quase que essencialmente, uma boa dose de astúcia." Envie sua Migalha