Dois pra lá, dois pra cá

11/9/2005
Abílio Neto

"Lula assinou terça a Lei nº 11.176 que institui o dia 13 de dezembro como o Dia Nacional do Forró", disse o informativo numa migalhinha intitulada "dois pra lá, dois pra cá". Ô Migalhas, bolero não é forró, samba não é rumba e Lula não é JK. Poderia no mínimo ter informado que a lei é uma justa homenagem ao natalício de Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião e pai do forró. Até já quiseram implantar a fleuma inglesa por estas bandas com a idéia de que a origem do forró vinha daquelas festas que os ingleses da Great Western promoviam nos fins de semana pros operários brasileiros no início do século XX, chamadas por eles de "for all" (para todos). Isso é uma mentira deslavada que tem até a contribuição de Geraldo Azevedo pra difundi-la, ele que nunca fez um forró autêntico. Segundo Câmara Cascudo, forró é uma forma reduzida de "forrobodó", palavra nascida na África para significar festança regada a comida farta e bebida. Aqui no Nordeste, senhores das terras e dos povos chegaram a chamá-lo de "samba da raça" e "festa da ralé". Depois que se introduziu a dança nessas festas, padres também diziam que era "dança pecaminosa". Com a introdução do xote, baião, coco e xaxado, o forró virou gênero musical. Luiz Gonzaga o levou aos grandes centros urbanos. Consta que o primeiro compositor a empregar a palavra forró foi o próprio Gonzaga na música "Forró de Mané Vito", gravada em 1949, de autoria dele e Zé Dantas. A letra é uma gostosa poesia matuta e trata de um cabra brabo e seu "punha" acabando com uma festa. Ofereço-a todos os migalheiros de plantão:
 
 

Seu delegado,
Digo a vossa senhoria
Eu sou fio de uma famía
Que não gosta de fuá

Mas tresantontem
No forró de Mané Vito
Tive que fazer bonito
A razão vou lhe explicá

Bitola no Ganzá
Preá no reco-reco
Na sanfona Zé Marreco
Se danaram pra tocá

Praqui, prali, pra lá
Dançava com Rosinha
Quando o Zeca de Sianinha
Me proibiu de dançá

Seu delegado,
Sem encrenca eu não brigo
Se ninguém bulir comigo
Num sou homem pra brigá

Mas nessa festa
Seu dotô, perdi a carma
Tive que pegá nas arma
Pois num gosto de apanhá

Pra Zeca se assombrá
Mandei pará o fole
Mas o cabra num é mole
Quis partir pra me pegá

Puxei do meu punhá
Soprei o candieiro
Botei tudo pro terreiro
Fiz o samba se acabá."

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