Oscar Niemeyer

7/12/2012
Luiz Fernando Pacheco – escritório Ráo, Pacheco, Pires & Penón Advogados

"O Ibirapuera, a Bienal, a Oca, o Copan aqui em São Paulo. Minha emoção, nos idos dos anos 90, quando, ainda estagiário, virando na Rodoviária de Brasília, à direita, vi, pela primeira vez, a Esplanada, o Congresso imponente ao fundo, o Planalto à esquerda, o Pretório Excelso à direita, a enorme bandeira tremulando ao fundo da Praça dos Três Poderes! Passando pela Catedral, pedi pela liminar que horas depois seria concedida pelo gentil Sidney Sanchez em minha primeira entrada pelas portas do Supremo! Era o último dia do ano judiciário de 1995. Convidado, enquanto esperava a distribuição e o despacho no mandammus, comi bolo de aipim e tomei cerveja no gabinete do ministro Presidente, José Paulo Sepúlveda Pertence! Quanta diferença de tudo que eu já vira no sisudo Palácio da Justiça de São Paulo. Descontração, confraternização, alegria, amizade instantânea. Estava em Brasília! Ainda hoje, quase 20 anos depois, me espanto, crianças brincando livres nas quadras, um forma, uma curva, uma surpresa, o lago, o horizonte sempre à vista, até as nuvens de Brasília parecem a arte movimentada e curvilínea do velho poeta. Alegre, amigo do engenheiro e do peão, bom de papo, de caipirinha e cigarrilha, de pastel, e, sobretudo, até o fim, das curvas da mulher amada! Poeta, sim, que cometeu, na Argélia, uma das mais lindas canções de exílio, na última triste e escura quadra autoritária vivida pela Brasil.

Estou longe de tudo
de tudo o que gosto
Dessa terra tão linda
que me viu nascer
Um dia me queimo
meto o pé na estrada
E aí no Brasil
que eu quero viver

Cada um no seu canto
Cada um no seu teto
A brincar com os amigos
vendo o tempo correr
Quero olhar as estrelas
Quero sentir a vida
E é ai no Brasil
que eu quero viver

Estou puto da vida
essa gripe que não passa
de ouvir tanta besteira
Não posso me conter
um dia me queimo
e largo isso tudo
E ai no Brasil
que eu quero viver

Isso aqui não me serve
não me serve de nada
A decisão ta tomada
ninguém vai me deter
Que se foda o trabalho
Esse mundo de merda
E ai no Brasil
que eu quero viver'

Niemeyer, como pontificou seu grande amigo e pioneiro da Capital, Darcy Ribeiro, será o único brasileiro de nosso tempo a ainda ser popular, lembrado e cultuado lá pelo século XXX!"

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