50 anos - Golpe

2/4/2014
Antonio Carlos Aquino de Oliveira

"Precisamos e queremos romper o ciclo de ódio e mágoas, precisamos nos libertar. Queremos a verdade nua e crua, todas as verdades, a que cura, salva, remedia e conserta. Queremos registrar com tintas honestas as páginas da história que liberta e faz a vida prosseguir. Queremos a história dos fardados e dos esfarrapados, de livros, canetas, bombas e baionetas, de heróis e traidores, de dores, de cruzes e crucifixos, de cemitérios e insepultos, de apresentados e desaparecidos, de rezas e discursos, de marchas e passeatas, de atos e omissões, queremos a História! Direita, esquerda, centro, marchar, avançar e recuar, táticas e estratégias à mesa, erros e acertos, direitos e deveres, leis, coerência, paciência, conte-se a História. Que todos saibam dela, principalmente os jovens. Somos, não hoje como ontem, mas deveríamos ser sempre, vozes que rompe silêncio, olhos que enxergam na escuridão, portas que se abrem e encerra um clamor incessante, constrói nação. Queremos a verdade que finda a penitência, que acaba o inferno da injúria. Somos brasileiros que libertam brasileiros, não pelo perdão, mas pela devolução da verdade responsável, corajosa e cidadã. Abram-se arquivos, escancarem-se portas. Põem fim aos tempos de escuridão e medo, que venham novos tempos, novos dias, novas ações, que não nos reúna em lados, mas nos organize em fileiras livres de magoas e paixões, com a luz da história e verdade capaz de fazer renascer um país, uma nação. Os que se foram sabem que os de hoje irão, outros virão, razão maior para que todas as páginas sejam escritas, cruas e nuas, repletas e transbordantes de todas as verdades, para que jamais, nunca mais, em tempo algum, nenhum encastelado no poder possa usurpar a liberdade de todos nós, nosso bem maior. Se alguns de nós não pegamos em armas, somos credores da paz, pois lutamos a guerra pela liberdade. Não morremos no front, mas sabemos que, torturas, nunca mais! Não brinca com o termo e conceito de democracia o cínico, o hipócrita e os usurpadores. O que coloca a democracia em risco não é a direita reacionária e raivosa, a esquerda radical, o centro despersonalizado e aderente, o capital selvagem, o socialismo caboclo, as utopias, mas a incompetência dos desqualificados em cargos públicos, a corrupção sem limites, as fracas instituições, educação sem qualidade e prioridade, a demagogia política, a inexistência de partidos e tantas humanas brasileiras mazelas. Todas as declarações, depoimentos, atos, textos, crônicos e comentários registram as posições e sentimentos deste momento hoje agora, mas não habilita o país e seu povo a dizer que não mais existem torturas, que direitos humanos não são meras declarações em pátrio solo, e isto, coloca a nação em eterno risco. O pragmatismo político, oportunismo eleitoral e o poder a qualquer preço transformam algozes em companheiros, confunde perdão com adesão, promove a aderência que transforma tudo em nada, massa sem cérebro, cor, cheiro e sabor. Honraremos os vivos e os mortos, sepultaremos todas as nossas dúvidas e traumas, libertaremos a todos para conquistarmos a nossa liberdade, fazer o presente e planejar um futuro melhor. Tudo foi pago, caro, caríssimo, para que este preço dolorido e cruel possa representar um investimento feito pelo povo brasileiro para ter uma nação livre, liberta, fora e sã. Uma história de uma nação não se encerra em 50 anos, ela jamais se acaba, mais precisa ser verdadeiramente contada para ser estudada, compreendida, contada e respeitada. As razões de cada lado não calam nossa indignação, não cessam os absurdos e os abusos. Conviveremos com a história lado a lado, para que certos capítulos dela jamais se repitam. Não mais precisamos de mártires, heróis, guerreiros ou guerrilheiros, pois saberemos continuar por todo e sempre a luta de um e de todos, em vigilância constante para que nada mais se feche, nada mais escureça, ditaduras jamais."

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