Falecimento - Alice Monteiro de Barros 16/4/2014 Simone Cristine Araújo Lopes "Acordei de luto, hoje, ao ver a informação postada do falecimento da minha excelente professora de Direito do Trabalho na UFMG, desembargadora do TRT da 3ª região, Alice Monteiro de Barros (Migalhas 3.350 - 16/4/14 - "Falecimento"). Ela tinha um estilo muito próprio, dela, penso que incompreendido. É desses tipos de pessoa e mulher independente que até assusta pela tenacidade, desejo de sempre fazer o melhor porque o menos que isso é mediocridade e, talvez, até mesmo falta de caridade social. Certo: quando não buscamos dar o nosso melhor no nosso trabalho, cada vez mais difícil, como juiz, professor, advogado, promotor, enfim, profissional da área do Direito, toda a sociedade sofre. Por isso, é falta de caridade/amor social. Nunca a vi atrasar numa aula e nunca ouvi dizer de ausências injustificadas no Tribunal. Ao contrário, a lenda que ela deixa é de presenças injustificadas, pois quando já adoentada, insistia em continuar a trabalhar. Sua forma um tanto 'despachada' de encarar a vida me rendeu ótimas risadas (contidas, em respeito a ela) na sala. Vou contar duas: Professora Alice contou, certa vez, que nunca tinha tirado CNH porque quando foi fazer o treinamento, o instrutor, ao subir a rua da Bahia, gritava com ela para passar e tirar marcha, etc, e, irritada com tudo aquilo, parou o carro no meio da rua, tirou a chave da ignição e jogou no meio da rua da Bahia para o instrutor ir lá pegar, saindo dali para nunca mais voltar. De fato, quando juíza do Trabalho em Contagem ou Betim, pegar ônibus, para ela, era rotina absolutamente normal e comum. E arrematava: 'Todo trabalhador faz assim, por que eu não posso fazer o mesmo? Julgar é um trabalho como outro qualquer. Diferente, mas trabalho'. Certa vez, uma colega de sala deixou um lápis cair no chão e um colega do lado abaixou-se para pegá-lo para a jovem. Ao ver a cena, bem à sua frente, professora Alice disparou um grito para espanto inicial do casal de colegas e da turma: 'Nunca dependa de homem, menina! Nem para pegar o lápis!'. E, para amenizar a situação, contou que quando foi prestar o vestibular para Faculdade de Direito na UFMG e mesmo durante a graduação sofreu horrores simplesmente por 'ser mulher' - aliás, linda mulher, o que testemunhei na foto dela como estagiária da Divisão de Assistência Judiciária (DAJ), local onde também estagiei quase três décadas depois dela, na UFMG. A história de um examinador dos antigos vestibulares que se faziam com banca de professores é famosa quando surgia alguma pretendente a ousar o ingresso na vestusta Casa de Afonso Pena: - Mulher fazendo Direito? Não... Mulher tem que cozinhar direito. De fato, abrir veredas em grandes sertões do mundo mineiro e jurídico nunca foi fácil para ninguém, principalmente para ela. Nossa homenagem!" Envie sua Migalha