Santo Amaro

7/8/2014
Roberto Pavanelli

"Santo Amaro que te quero tanto, por que tanto te quero? Porque foram de Santo Amaro os braços que receberam meus bisavós, acolhendo-os de terras distantes, quando aqui predominavam as matas, irrigadas por uma abundância imensurável de águas límpidas e saudáveis. Nestes tempos, a fauna era farta e de rica variedade. Tudo era de uma beleza imensa, mas o carinho maior emanava do pequeno povo que por estas terras já vivia e que viu o nascimento e a morte de nosso poeta maior Paulo Eiró. Santo Amaro que te quero tanto, porque tanto de te quero? Porque abraçados pelo carinho daquele povo que recebeu os meus bisavós, eles foram incentivados a gerar meus avós, que daqui também não saíram para viver uma época em que nossa cidade ainda mantinha um cenário de muitas matas onde eles se locomoviam através dos carros de bois e se divertiam nas festas do Divino Espírito Santo. Da linha dos pequenos trens a vapor, que transportavam as pessoas para a grande capital do Estado. Quero-te tanto, Santo Amaro, por que o amor dos meus avós deram vida nestas terras a meus pais, que arduamente trabalharam nos tempos em que aqui conheceram os bondes elétricos, o repicar dos sinos da igreja matriz, chamando nossos conterrâneos para as orações. Pais que viram surgir a mais persistente tradição de fé, através das romarias a Bom Jesus de Pirapora, que até hoje cultivamos, que conheceram aqui a chegada dos automóveis, o advento das olarias, dos alambiques, dos jagunços e dos maragatos. E que também, vivendo nesta terra santa, em suas andanças rotineiras, acabaram por conhecer aquele que, pintando sua terra e esculpindo em duras pedras suas imagens, se tornou não só famoso, mas mais um motivo de orgulho para todos nós. Época em que nossa gente passou a ser conhecida como 'Os Botinas Amarelas'. Sitiantes pobres, mas orgulhos das suas tradições. Óh Santo Amaro! Porque tanto te quero? Por que foi nesse berço de felicidades que fui colhido pelos braços de minha mãe, ajudado por uma senhora negra que se tornou famosa, por tantas pessoas segurar vindas ao mundo de tantos outros ventres, para também viver no seio desta cidade. Amo minha cidade porque nela aprendi, no Grupo Escolar Paulo Eiró, as primeira letras do alfabeto. Daí em diante, fui crescendo e descobri que em minha terra tinha muitos amigos. Que com esses amigos podia frequentar às missas de domingos, paquerar no jardim, termo que se dava aos namoricos, dançar no Vila Sofia, almoçar no restaurante do Joca na Alameda Santo Amaro, no restaurante São Paulo do Largo 13, no Peixoto na Praça Floriano Peixoto, de me divertir nos carnavais do Cine S.Francisco, do Cine Mar, de frequentar a Juventude Mista Católica no Salão Paroquial, de passear na Galeria do Cine Bruni, de ouvir comentários das roupas expostas na Loja Jurucê, de ver a sra. Salvatina desfilar nas romarias e, com tudo isso guardado em minhas lembranças, poder hoje recordar das proezas da minha juventude feliz. Lamento por meus filhos que somente se lembrarão de um Santo Amaro violento, mau tratado e esquecido, onde somente puderam andar de automóvel e conhecê-lo através de notícias de jornais que tomaram por hábito falar das manifestações diversas no Largo 13 de Maio, local preferido daqueles que não se identificam com o Torrão Natal. Porém, fiques tranquila querida Santo Amaro, não consigo deixar de amar-te, embora chore com as lembranças de teu passado, chorando te quero cada vez mais."

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