Arte de Furtar

2/12/2014
Paulo M. Calazans - escritório Leonardo Lobo Advogados

"Recebi de um amigo este interessante trecho de texto, extraído da obra 'Arte de Furtar - Espelho de Enganos, Teatro de Verdades', de autoria do Padre Antônio Vieira, em seu cap. XLII. Dos que furtam com unhas fartas - 'A raposa, quando salteia um galinheiro, faminta, ceva-se bem nos dois primeiros pares de galinhas que mata. E como se vê farta, degola as demais e vai-lhes lambendo o sangue por acepipe. Isto mesmo sucede aos que furtam com unhas fartas que não param nos roubos, por se verem cheios, antes; então, fazem maior carniçaria no sangue alheio. São como as sanguessugas, que chupam até que rebentam. Andam sempre doentes de hidropisia as unhas destes. Então, têm maior sede de rapinas quando mais fartos delas. E ainda mal que vemos tantos fartos e repimpados à custa alheia — que não contentes —, da mesma fortuna fazem razão de Estado para sustentarem faustos supérfluos, engolfando-se mais para isso nas pilhagens, para luzirem desperdiçando, porque só no que desperdiçam acham gozo e honra. Chamara-lhe eu descrédito e amargura de consciência se eles a tiveram'. Penso que, embora datado do século XVII, o texto parece ser deveras atual.  Talvez, faça-nos indagar a nós mesmos: evoluímos? Ou pouco mudou?"

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