CPIs

27/3/2006
Arnaldo Montenegro

"Sr. Editor: Encaminho-lhe uma pequena contribuição/colaboração sobre os primórdios das CPIs, que enaltecem os operadores do Direito.  

CPIs

 

A primeira CPI no Brasil, foi instaurada durante a Era Vargas, para apurar financiamento supostamente operado de forma irregular, pelo Banco do Brasil ao Jornalista Samuel Wainer, com objetivo de financiar o jornal 'Última Hora'. Na autobiografia 'Minha razão de viver' (Samuel Wainer), organizada por Augusto Nunes (Editora Planeta – 2005), o autor deixa claro, por mais de uma vez, que sua excessiva autoconfiança o prejudicou e fulminou a si e conseqüentemente ao jornal 'Última Hora'. Seu erro: não ter pensado nos advogados para assessorá-lo, ao contrário de Carlos Lacerda, que apesar de ser uma 'raposa' na política e no jornalismo, contratou uma das maiores bancas do Rio de Janeiro, nas décadas de 40 e 50, para traçar a estratégia jurídica de defesa. Vale a pena destacar esse trecho: 'A vaidade me induziu a outros erros, um dos quais foi enfrentar a primeira fase das investigações sem que um advogado orientasse minha defesa. Optei por uma linha demasiado romântica. Para rebater as acusações forjadas contra mim, organizei com Otto Lara Rezende, um documento que batizamos de 'O livro branco da imprensa amarela'. Este documento é hoje uma peça indispensável à compreensão da história do jornalismo brasileiro, mas apenas excitou, àquela altura, os interesses que se conjugavam para tentar um assalto final à Última Hora. A maioria dos integrantes da CPI fora pessoalmente indicada por Getúlio, mas logo ficou claro que poucos mereciam confiança. Quase todos passaram a exigir vantagens – nomeações, favores – em troca do apoio a mim. À frente dos meus adversários, Lacerda recorreu aos serviços do escritório de advocacia de José Nabuco e montou o cerco. Em vez de articular cuidadosamente minha defesa, preferi divertir-me redigindo com Otto Lara Resende o 'Livro branco'. Rimos muito durante duas, três noites, ao longo das quais rebati todas as acusações que me eram feitas e distribuí bordoadas sobre as cabeças de todos os meus acusadores. Mas eu pagaria caro por tamanha ingenuidade. Os trabalhos da comissão se estenderam por meses a fio, dezenas de pessoas foram ouvidas, e as pressões contra mim e a Última Hora se tornaram terrivelmente agudas. Apesar do farisaísmo das acusações, sofri um cerco tremendo. Se eu tivesse recorrido a tempo à ajuda de advogados, certamente escaparia a esses dissabores, sempre provocados por escorregões decorrentes do meu desconhecimento jurídico'. ('in' pág. 225/226 – Capítulo 24)."

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