Artigo - Baboseiras destemperadas e "impiche"

3/12/2015
Geraldo Azevedo Siqueira

"Com a devida vênia, perdoe-me a franqueza, mas, V. Sr.ª ao atirar contra as baboseiras alheias cometera o despautério de esguichar baboseiras outras ao comparar confusamente o território português ultramarino do Brasil com o Império do Brasil à nefasta República que colocou nossa terra no rol das nações subdesenvolvidas (Migalhas 3.753 - 2/12/15 - "Baboseiras destemperadas" - clique aqui). O Estado brasileiro somente teve início em 1815 quando foi elevado a Reino, por Dom João IV, então príncipe regente do Reino de Portugal e do Império Português Ultramarino, antes disto o território do Brasil era parte do Estado Português, quem aqui nascia tinha naturalidade provincial e nacionalidade portuguesa. É preciso ter cuidado a misturar e confundir a história de Portugal com a história do Brasil independente. E mais cuidado ainda a misturar a história do Império do Brasil com a República Federativa do Brasil. Outro traço marcante da historiografia brasileira é que durante a República tratou-se de ridicularizar o antigo regime, atribuindo-se demasiada ênfase às esquisitices e à intimidade de membros da família imperial do que às suas qualidades e aos seus feitos enquanto chefes de Estado. Felizmente, aos poucos, a historiografia séria vai desvendando os fatos verdadeiros e relevantes da história luso-brasileira. Nos EUA o 'general' Custer foi derrotado pelas tribos de Touro Sentado e Cavalo Louco na batalha de Little Bighorn (1876), mas, ainda assim foi alçado ao panteão dos heróis americanos. Se fosse no Brasil, os heróis teriam sido Touro Sentado e Cavalo Louco. Parece que no Brasil sofremos de um tal 'complexo de vira-latas'. Ridicularizamos heróis de verdade, como Dom João IV, por sua simplicidade. Sem levar em conta alguma seus feitos como chefe de Estado. Se esquecem de que ele assumiu a regência do Reino de Portugal e Império Português Ultramarino durante as guerras napoleônicas, período de grande decadência econômica de Portugal. Ou seja, teve que descascar um abacaxi que estava destinado à seu falecido irmão primogênito. Mesmo assim, salvou o Estado português e a dinastia de Bragança da conquista pela França (Direito de Conquista). O próprio Napoleão admitiu - antes de falecer na ilha de Santa Helena - que Dom João IV fora o único monarca da Europa que o enganara. Dom Pedro I do Brasil, o IV de seu nome em Portugal, não só manteve a unidade do Brasil como a partir dos Açores organizou a retomada do trono Português para sua filha Dona Maria II das mãos de seu irmão absolutista Dom Miguel. Para tal enfrentou um exército de 80.000 homens com pouco mais de 7.000 homens, a partir da épica Guerra do Porto ou Cerco do Porto. Antes, enfrentara as Cortes Portuguesas pela Independência do Brasil, ocasião em que derrotou a Armada portuguesa no Atlantico Sul. Demonstrou grande habilidade como estrategista militar, a organizar a Armada brasileira e ao arregimentar mercenários do calibre do Lord Thomas Cochrane, o 'Lobo dos Mares', para consolidar a independência do Brasil. Embora estivesse 'cagando' quando recebeu a notícia da independência, isto já era planejado, eis que tal notícia trazia o decreto da Independência assinado por sua consorte, a imperatriz Leopoldina. Em Portugal é lembrado como O Rei Soldado. Seu filho legado ao Brasil, Dom Pedro II, provavelmente o maior poliglota que já serviu à pátria, mecenas das artes e das ciências, admirado e respeitado no mundo à época por notáveis da envergadura de Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, Richard Wagner, Louis Pasteur, Jean-Martin Charcot, Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros, seria necessário escrever muitos volumes densos somente para descrever seus predicados. Nas palavras de Victor Hugo: 'Felizmente não temos na Europa um monarca como Vossa Majestade. Se houvesse, não existiria um só republicano'. No estrangeiro, sabem melhor de nossa história que nossos mais célebres acadêmicos, como o exemplo que segue. 'Um único país, o Brasil, tinha escapado a essa profunda decadência dos povos sul-americanos, em virtude de um regime monárquico que colocava o governo ao abrigo das competições. Depois o país foi entregue a uma completa anarquia, e em poucos anos a gente incumbida do poder dilapidou de tal maneira o tesouro, que os impostos foram aumentados em proporção desmedida'. Gustave Le Bon (sociólogo Francês). O Brasil do fracasso, é o Brasil republicano."

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