Ano novo ou ano velho?

7/12/2015
Pedro Luís de Campos Vergueiro

"Ano novo velho, ou ano velho novo. Uma confusão. Quando o ano já velho estava por vir, era chamado de ano novo. Por sua chegada tinha-se muita esperança, a esperança de que não seria igual ao ano velho então findando. Porém, esse ano novo envelheceu tão rapidamente. Precocemente o ano então novo transformou-se em ano muito velho. E agora que virá a ser efetivamente chamado de ano velho, parece que sua velhice está contaminando o ano novo, fazendo este surgir, em verdade, já como um ano velho, bem velho. Assim é como nos parece. Pelo que aconteceu, pelo que acontece, pelo que está sempre acontecendo, este ano já melancolicamente muito velho não vai transmitir nada para o ano novo em perspectiva. Nem esperança. O futuro ano novo, tudo indica, não terá nada de novo: do jeito que o corrente ano velho está findando, o ano novo não vai passar de um ano velho bem mal caiado de novo. E a caiação não vai disfarçar nada; ao revés, a caiação deixará entrever e prever as sombras sombrias do ano velho. Vislumbra-se no ano novo que as coisas históricas do ano velho vão se repetir, o que leva à desesperança. Parece que o ano novo não será colorido, alegre, vibrante, resolvido. Ano velho sempre deixa uma herança para o ano novo, sabemos. São as lembranças do ano velho. Desta vez (mais uma vez?!) há a certeza de que não se terá boas lembranças e o balanço do ano velho, cumulado com o dos anos mais velhos, revela o recebimento de uma herança maldita, três vezes quatro mais um maldita. Então o próximo será um ano novo já velho, muito velho, pois às bagunças acumuladas ano a ano não foi dado fim e parece que novas bagunças anarquizantes pontuarão o ano novo, ou melhor, o ano velho por vir. A perspectiva, portanto, é a continuidade dos problemas dos anos velhos. O ano novo que desponta parece que será mais um ano velho como todos os anos velhos que já passaram, com a repetição dos enredos, das negociações, das transações, das agressões verbais. Enfim, e até mesmo das descobertas de coisas que alguns não queriam que fossem descobertas: tudo igual ou semelhante ao que num crescendo vinha acontecendo nos anos velhos. Não obstante ano novo é sempre, em tese, novo, pois expectativas sempre se fazem presentes. Agora também assim ocorre. Afinal, a esperança de coisas boas sempre sobrevive a tudo. O ufanismo brasileiro nunca permitiu que a esperança se diluísse numa tristeza sem fim. Daí a expectativa de que já no início do ano novovelho, ou ano velhonovo, pelo menos um ou mais fatos novos e surpreendentes venham a eliminar o que há de velho no ano novo, para que o ano novo seja realmente novo e ganhe impulsos novos para reacender esperanças novas para a velha e sempre renovada cidadania brasileira."

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