Fórum Trabalhista Ruy Barbosa

29/9/2016
Adriana Cardoso - magistrada

"Lamentável a postura agressiva e beligerante dos membros da comissão da OAB no episódio de ontem (Migalhas 3.958 - 29/9/16 - "Fórum Trabalhista Ruy Barbosa" - clique aqui). A juíza estava trabalhando, no estrito cumprimento do seu dever, como ademais o fazemos todos os dias, cumprindo pautas e metas que estão nos levando ao limite da exaustão. E por fim, sempre se reclama. Se insistimos em terminar a pauta, ainda que de 20, 30 audiências diárias, para que o processo não seja adiado para 2017, com sorte, tendo em vista o acréscimo constante do número de ações judiciais. Se atrasamos, sim, porque com esse número de processos, por óbvio haverá atrasos. Se adiamos 'pelo adiantado da hora'; se trabalhamos, com ou sem luz; com ou sem estrutura física e humana; se despendemos toda a nossa energia para melhor atender às partes e jurisdicionados. Se voltamos 'das férias', com as 100 sentenças que proferimos em tal período, que não raro tiramos exatamente para tentar cumprir as 'metas'. Ainda assim se reclama. Semana passada um advogado foi a Ouvidoria do meu tribunal porque não me localizou 'no celular' entre 13h15 e 17h22, período em que permaneci longe de tal aparelho para melhor me concentrar na prolação de sentenças. Mas o pior do 'pequeno incidente', apenas um retrato da rotina nos fóruns do Brasil afora, foi a forma como os ilustres causídicos trataram o segurança. Um trabalhador, de pouca instrução, que estava apenas cumprindo ordens e não sabia como se dirigir de forma adequada a tão eminentes cidadãos que o agrediram de forma verbal e física por terem sido chamados 'do pessoal das prerrogativas'. Sou magistrada. Mãe, filha e irmã de advogados e tenho dito, especialmente aos jovens. Essa 'guerra' dos últimos tempos entre OAB e Judiciário, fomentada por alguns, não terá vencedores, mas somente vencidos. Defender prerrogativas, exercer a judicatura e a advocacia são coisas que devem ser feitas com sabedoria, discernimento, temperança, educação, humildade e sobretudo com humanidade, porque por trás do juiz, do advogado, do segurança, do porteiro, do servidor, há seres humanos. E quase todos nós, com ou sem nossas carteiras vermelhas, na mesma situação. Tentando viver e sobreviver."

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