Festas juninas

21/6/2017
Abílio Neto

"Outro dia quiseram me jogar num debate sobre a vibração das festas juninas do Nordeste que agora contam com a indiscutível invasão de 'cantores sertanejos universitários'. Fujo disso como o diabo foge da cruz. É inútil lutar contra empresários da indústria do entretenimento, donos de hotéis e prefeitos gananciosos. Eles acham, por exemplo, que as festas promovidas em cidades como Petrolina e Caruaru (ambas em Pernambuco) e Campina Grande (Paraíba) só atraem 50 mil pessoas por noite por causa de nomes como Marília Mendonça, Luan Santana, Maiara e Maraísa, etc. Isso para eles é muito bom, mas para mim não presta. Hoje, quase véspera de São João, me mando pro mato pra curtir o meu 'São João na Roça' à moda antiga: dançando forró com trio de sanfona, zabumba e triângulo e comendo coisas do rico cardápio do milho. Aliás, festejo de São João aqui é conhecido como 'Festa do Milho'. As festas juninas no Brasil são uma herança dos irmãos colonizadores portugueses, eles próprios ainda hoje adeptos dessa milenar tradição. Santo Antônio, festejado em Lisboa e em Lagos; São João, no Porto e em Braga; e São Pedro, em Évora e Cascais. E vieram de lá também os costumes pagãos dentro dos festejos, tais como adivinhações e culto ao fogo. Até a música veio de Portugal: a marcha junina do Nordeste nada mais é do que a marcha popular de Lisboa para festejar Santo Antônio. Luiz Gonzaga apenas fez uma adaptação sertaneja desse ritmo e não há uma festa de São João, mesmo essas falsificadas, que algum artista não cante 'Olha pro Céu', de Luiz Gonzaga e José Fernandes, composta no início da década de 50 do século passado. Ouçam-na. É linda e eterna!"

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