Copa do Mundo

3/7/2006
Abílio Neto

"E agora vão dizer o quê? Em 1986 disseram que foi a fraqueza de Zico ao perder um pênalti quando o jogo estava empatado em 1 x 1. Em 1998 alegaram a convulsão de Ronaldo poucas horas antes do jogo, o que teria desestabilizado toda equipe. E em 2006? Até que apareçam as explicações oficiais, a verdade é que adquirimos um complexo de vira-lata frente à França. Mas desde já culpem-se também pela derrota deste sábado passado, a vaidade de alguns, a teimosia da comissão técnica e a vilania de outros: estrelas que não brilham, craques que não entram em bolas divididas, ou que não partem pra bola como faminto em busca de comida. Todos são milionários e estão à espera de novos contratos. Cafu queria o recorde de 20 jogos em Copa. Conseguiu. Ronaldo, o fenômeno de cara redonda, que chegou na Suíça pesando dez quilos a mais que na Copa de 2002, queria bater o recorde de Pelé, como artilheiro do Brasil, e de Gerd Muller, como maior artilheiro das Copas. Conseguiu. O Brasil, como equipe, pretendia atingir a marca de 200 gols. Conseguiu. Aí resolveram entregar o jogo à França em nome de uma estranha solidariedade a Zidane para que ele tivesse uma despedida honrosa do futebol. Estranhos craques esses 'europeus brasileiros'. Cafu com 36 e Roberto Carlos com 33, não tinham mais condições de defender e apoiar o ataque nesse sombrio futebol moderno onde se aboliram os pontas. Sem querer defender os dois (porque não merecem), mas o macaco, o macaquinho, deixou de namorar a girafa porque é muito cansativo ir lá em cima dar um beijinho e voltar. Ir de novo e voltar. Ninguém agüenta fazer isso o ano todo nesse calendário estúpido dos jogadores. O resultado? No gol da França, Cafu fez falta porque cansou e não conseguiu acompanhar o francês. Roberto Carlos, esgotado, ficou com as mãos no joelho na risca da grande área enquanto a bola esticada de Zidane viajava até Henri, livre e solto pra marcar o gol francês. No banco, porém, os reservas estavam com todo gás, mas só entraram no jogo quando a Pátria-Mãe já estava comprometida com tenebrosas transações. Acompanho futebol desde 1965, vi Pelé e Garrincha brilharem em campo. Vi seleções medíocres como a de 1978, de Cláudio Coutinho e a de 1990, de Sebastião Lazaroni, porém nenhuma tinha sido tão ridícula a ponto de só chutar uma cafofa em gol durante 90 minutos. Somos penta campeões do mundo, é verdade, mas também somos fregueses da França!"

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