Olinda - 483 anos

12/3/2018
Abílio Neto

"Nem sempre um menino-prodígio será um adulto-maravilha. A vida nos tem mostrado isso e, às vezes, de uma forma bastante cruel. Foi o que aconteceu com o nosso querido Paulo Molin, nascido em Recife, porém descendente de franceses. Paulinho aos oito anos já encantava nos programas de auditório das emissoras de rádio recifenses como cantor-mirim. A fama do garoto prodígio se espalhou pelo Nordeste. Do Recife para gravar o primeiro disco de 78 rotações no Rio de Janeiro foi um pulo. E lhe coube a honra de gravar originalmente, de Lourenço Barbosa, o Capiba, a linda música 'Olinda, cidade eterna', em 1950, aos 12 anos. Sucesso absoluto do nordeste até o sudeste. Eis que o menino-prodígio vira homem, mas o povo exigia-lhe a mesma voz de garoto. E alguns chegavam a perguntar o porquê da sua voz ter mudado tanto. Ele fez algum sucesso como adulto, porém nada parecido com aquele que desfrutou quando criança. Eu que tenho dez anos a menos que ele, até acho que sua voz ficou mais bonita sem tantos agudos, todavia o povo não entendeu assim. Ele sumiu do meio artístico. Deixou de gravar e fazer shows. Foi o motivo para que ele mudasse de profissão. Passou a ser jornalista. Editou um jornal em Guaxupé/MG, município que lhe deu a cidadania e o carinho não demonstrado pelos olindenses e recifenses. Lá voltaram a lhe chamar de Paulinho. Em 26/8/2004, aos 66 anos, Paulo Molin disse adeus. Nenhum jornal ou emissora de Pernambuco deu a triste notícia. Vim saber dois anos depois. Como é que pode ter morrido tão olvidado na terra que o viu nascer e onde fez tanto sucesso? Como modesto pesquisador da música popular brasileira, obtive as gravações de 'Olinda, cidade eterna', uma que fez aos 12 anos, em 1950, e outra que realizou em 1963, aos 25 anos. Tenho ótimas gravações dele no período 1950/1970. Seu maior sucesso? Sem dúvidas, Sereno. Por que me lembrei dele hoje? Porque hoje Olinda completou 483 anos e Paulo Molin está para sempre marcado na memória desta cidade-monumento. Que lá onde sua alma repousa possa nos perdoar pelo esquecimento da sua pessoa em vida. Da sua voz, eu, pelo menos, jamais esqueci."

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