Dia 11 de agosto

15/8/2006
Ednaldo Gamboa - RJ

"Aproveitando o espírito e o momento de saudade, mando uma pérola de petição que me foi enviada por um amigo.

 

'PETIÇÃO DIRIGIDA AO JUIZ DE DIREITO (JUIZ DE PAZ) DA COMARCA DE LAGUNA, SANTA CATARINA, E EXTRAÍDA DOS ARQUIVO DO CARTÓRIO (com a devida correção ortográfica).

 

Diz José Soares da Cunha, morador no Mirim, Fazenda Sant'Ana de Vila Nova, que sendo casado com Anna do Rosário, em face da Igreja, no ano Constitucional de 1833, à vista de Deus e de todo mundo, por sinal que foram testemunhas e padrinhos Antonio da Rocha e Joaquim Avelar, sucedeu que no dia 2 de fevereiro do corrente ano Constitucional de 1834, pelas oito ou nove horas da noite, ou as que na verdade eram, pois ali ninguém tem relógio certo, senão Manuel Teixeira da Silva e o compadre Manuel Borges tem outro que trocou por uma égua velha, que não regula, o suplicante mais moradores se regulam pelo sol, que quando está claro regula certo, indo dita mulher muito quieta fiar algodão em casa de sua vizinha Gertrudes, viúva de Manuel Correia, cuja viúva é muito capaz e não há que se lhe diga, exceto de ser decente, só se for alguma dessas desavergonhadas quatro ciganas linguarudas, que tanto tem muito nesta Fazenda, de que se for preciso o Suplicante denunciará para lhes cair em cima todos os Códigos de Policiais do Império e não lhe valerão empenhos nem padrinhos, nem rabulices das ordenações, porque graças a Deus já estão abolidas as réplicas e tréplicas, lhe saiu repentinamente na estrada junto ao córrego, o desaforado José Bento, filho de Joaquim Bento, que o Senhor Juiz de Paz se soubesse cumprir com suas obrigações faria prender autuado e posto em gaiola, e de repente arrumou forte umbigada na mulher do Suplicante, que logo a derrubou e caiu sem sentidos com as partes pubendas à mostra e lhes cuspiu em cima, cujas partes só o Suplicante compete ver, como cousa de sua propriedade e que recebeu até a morte, e como chorasse e gritasse, acudiu a viúva Marina que fez fricção de arruda e benzeu para com muito custo ficar boa. O Suplicante não requereu logo corpo de delito, por ser a pancada no baixo ventre entre o umbigo e aquela parte mimosa da criação, que só o Suplicante e a parteira podiam ver, logo que o tal réu fez a maldade fugiu e anda dizendo que foi brincadeira, porque a umbigada foi a má tenção e rixa antiga para experimentar se a mulher do Suplicante se deixava ficar como pata para ele galar, porém vai galar para o inferno, pois a mulher do Suplicante não é dessas vadias e sim virgem e honrada, que só tem matrimoniado com o Suplicante, e apesar de ter sido muitas vezes namorada e seduzida por pessoas de caráter e farda agaloada, prometendo-lhe patacões e cordões de ouro, porém ela sempre firme e contente sem fazer caso disso, pois bem sabe que o Suplicante tem atrás da porta uma grande cotia com que lhe havia de ir no lombo, e por isso o Suplicante por cabeça do casal de sua mulher, quer fazer citar ao tal réu José Bento, para vir jurar as testemunhas que o Suplicante apresentar do desacato, do desaforo da brutal umbigada que arrumou na mulher do Suplicante, que por felicidade não estava pejada senão seriam duas mortes, porque ela abortava e logo o Suplicante provar ser o réu logo julgado pelos Senhores Deputados jurados que se acham agregados na Laguna e pelo Senhor Juiz a fim de ser degradado para Lagos com galés e seja acompanhado por escolta permanente que pelo caminho lhe vão dando umbigadas com cipó bem curto. O Suplicante espera do Senhor Juiz de Paz desagravasse a sua honra atrozmente ultrajada por um bigorrilha sem educação'."

Envie sua Migalha