Nordestinos 9/10/2018 Cleanto Farina Weidlich "Emendando as ideias, lembrei da herança do Jayme, o Bosonaro de hoje, é o Negro Lucio da história: Payada do Negro LúcioJayme Caetano Braun Vou tenteando na cambonaJá bem abaixo do meio,Lá pras bandas do rodeioOuço um berro de mamona;Aqui guitarra e cordeona,Chimarrão - fogo de anjico;O sol já com braço e picoNeste final de janeiroQue vai indo mais ligeiroDo que soldo de milico! Mateando - meio solitoPorque o patrão e a peonadaJá saíram pra invernada,Há muito tempo - cedito,O sábado está bonitoE a indiada aqui da fazendaDe tarde - se vai a vendaE aos bolichos do caminho,Ou então - beber carinhoNos braços de alguma prenda! Mas enquanto eu chimarreioNeste morrer de janeiro,Meu pensamento chasqueiroSe aviva - mascando o freioE sai - a pedir rodeioNas lembranças - retoçando;Eu me paro - recordandoAs falas do negro lúcio,Muito maior que confúcioPra filosofar trançando! E ele sempre me dizia,Enquanto tirava um tento,Naquele linguajar lentoCheio de sabedoria:- a noite é a ilhapa do diaNa argola da escuridão,É quem garante o tirãoEm todas as lidas sérias,Neste varal de misériasQue é a existência do cristão! Deus não fez rico nem pobre,Peão - patrão ou capataz,Isso é o destino quem fazE - como é - não se descobre,O nobre que nasce nobreNem sempre assim continua;Pra beleza da xiruaOu cavalo de carreiraNão adianta benzedeira,Nem reza ou quarto de lua! Enquanto filosofavaNaquele estilo serenoO semblante do morenoParece - se iluminava,A vivência é que falavaNaquela conversa mansaE - no fundo da lembrança,Inda o escuto reafirmar:- parar não é descansarPorque estar parado - cansa! Dele mil vezes ouviO que tem que ser - será,Por longe que o homem váJamais fugirá de siE com ele eu aprendiAs cousas da natureza,A fidalguia - a franquezaE aquela velha sentença:- atrás da cinza mais densaExiste uma brasa acesa! E chego a ouvi-lo fazerJunto dum fogo de chão,Uma grande distinçãoEntre existir e viver;Filho, dizia - morrerNão é mais do que uma viagem,Por isso não é vantagemO forte fazer alardeQue - às vezes - pra ser covarde,Precisa muita coragem! Inda vejo o conselheiroQue evoco com devoçãoNaquele estilo pagãoDe confúcio galponeiroQue me dizia: parceiroNesta existência brasina,Cada qual traz uma sinaQue força alguma desviaE nada tem mais valiaQue as coisas que a vida ensina! Filho - a verdade - verdadeQue nenhum sistema escondeÉ que o povo não tem ondeSuprir a necessidadeE vive pela metadeAbaixo de tempo feio,Vai explodir - já lo creio,A tampa dessa panela,Nem adianta acender velaPro negro do pastoreio! Como encontrar os perdidosNum país deste tamanho,Se venderam o rebanhoE os homens foram vendidos,Se os chamados entendidosFalam de cara risonhaDefronte a crise medonhaDe estelionatos e orgias,Quem mente todos os diasVai ficando sem vergonha! Aqui o rio grande isoladoPela mão pátria madrasta,Dia a dia - mais se afastaDo poder centralizado,Mesmo que guaxo pesteadoBotado de quarentena,Quanto ao capataz - que pena,Não serve para o rio grandeNa hora de ficar grandeSe abatata e se apequena! Na hora de dizer: pára!Àqueles que nos ofendem,Desrespeitam - desatendemAo rio grande tapejara,Não sei porque - esconde a cara,Quando a ocasião é mostrá-la,Calçar o pé - erguer a falaPorque esta terra pampeanaNão é a "casa da mãe joana"E nem tão pouco senzala! Não é ofensa - capataz,É que os homens desta terra,Adquiriram na guerraDireito de estar em paz,Dentro dum clima capazDe viver em harmonia,Sem toda essa vilaniaDe boicotes e de ameaçaQue estão fazendo - de graçaÀ velha capitania! A própria carne importadaLá de fora - é um desaforo,E o calçado - há tanto couroE gado nesta invernadaE arroz da safra passada,Pra que essa compra mesquinha,Querem nos dobrá a espinhaE nos cortar a garganta,Mas rio grande - não se espantaComo se faz com galinha! Que lindo se - o presidenteEm vez de passear na europa,Passasse em revista a tropaDeste país continenteE num gesto inteligenteViesse ao rio grande fronteiroQue já era brasileiroAntes mesmo de vespúcioE levasse o negro lúcioPra servir de conselheiro!" Envie sua Migalha