Vida

28/8/2006
Abílio Neto

"Meu querido Mano Meira, se você entendeu assim, tenho que lhe pedir desculpas. Mas é que o povo daqui do Nordeste se acostumou a rir da sua pouca sorte (Deus me livre de falar desgraça, como muitos chamam a gente: 'povo desgraçado'). Eu tentei fazer humor pra você e pra mim, já que estou aspando os 58. Pra desfazer esse mal entendido cito o escritor Dyonélio Machado que um dia disse: 'Eu sou duma terra de imaginação. O gaúcho, aquela vida segregada na estância, com um convívio muito limitado, aquilo leva às fantasias, aos sonhos, ao conto, à história'... Está explicada a razão dessa sua poesia maravilhosa e o desejo de morrer dessa forma! Se eu soubesse o seu endereço até lhe mandaria um CD do Luiz Gonzaga (imitador confesso de Pedro Raimundo), onde ele canta com sua sanfona e acompanhado somente por um violão, a valsa famosa de Lupi (Lupicínio Rodrigues) Jardim da Saudade. A gravação é de 1952 e recentemente fiz a conversão pra CD. É coisa pra gaúcho nenhum botar defeito. Vou citar os primeiros versos:

 

'Ver carreteiro na estrada passar

e o gaiteiro sua gaita tocar

ver campos verdes cobertos de azul

isto só indo ao Rio Grande do Sul.

 

Ver gauchinha seu pingo montar

e amar com sinceridade

Ah o Rio Grande do Sul

é pra mim o jardim da saudade

 

Ah que bom seria

se Deus um dia de mim se lembrasse

E lá para o céu

O meu Rio Grande comigo levasse'...

 

Assim, em nome do Zé Preá, espero que acolha esta migalha como um pedido de desculpas. Que Deus seja generoso com você! Abraços de" 

 

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