Vida

28/8/2006
Eldo Dias de Meira – migalheiro, Carazinho/RS

"Abílio Neto. Querido amigo Abílio Neto. O Mano Meira solicitou-me, lhe transmitisse esse recado ou chasque como ele diz em seu modo xucro de falar, já que ele é um índio criado em fundo de campo: Diga lá ao Zé Preá, que o Mano não ficou triste, nem chateado com aqueles versos, mas, pelo contrário, soltou efusivas gargalhadas, pois na realidade é tragicômica a situação da maioria de nós brasileiros quando nos vimos às voltas com o tal de INSS. E a resposta que fez em verso não teve a intenção de apouque nem de ser ríspida, mas sim, refletir o mundo poético no qual se envolve o homem da campanha no sul do país e que acredita ou teima em acreditar numa vivência temperada com a presença desse mito, dessa fantasia, que muitas vezes se corporifica e ultrapassa os umbrais da saudade para nosso mundo real, que é a figura do gaúcho fanfarrão, esse que nunca dobra o penacho e brinca com tudo e até com a própria morte, e que na realidade é eterno, porque até hoje não se tem notícia de seu fim. Por isso peço desculpas, porque também fui muito mal domado, mas se não for pedir muito, quero lhe dizer que aceito de todo o coração àquele CD que me ofertaste a título de presente pela passagem dos sessenta anos no lombo da minha existência. Pela letra, noto que essa música não consta existir em minha seleção, é realmente uma raridade e esse presente marcará uma imensa amizade nascida entre dois migalheiros, um grande poeta repentista do nordeste e um arremedo de payador gaúcho. Em troca, se tiver seu endereço, prometo mandar um CD do meu eterno guru Jayme Caetano Braun, para quem o INSS seria luxo, pois como dizia em seus versos:

'Verão – primavera – inverno,
Ali não faz diferença,
Para curar qualquer doença
Cada gaúcho é um interno;
Quem vive naquele inferno
Não se assusta nem se acanha,
Nas urgências de campanha
É rápida a cirurgia
E se estanca uma sangria
Com terra e teia de aranha!

O braço – a perna quebrada,
Todo e qualquer acidente,
Se atende imediatamente,
Sem anestesiar a indiada;
Faca sempre bem afiada
E a segurança na cura,
Talho grande se costura
Sem alteração nem teima
E – quando um cristão se queima,
se mija na queimadura!'"

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