Eleições 2006

5/9/2006
Caio Martins - publicitário e produtor gráfico

"Chuchus verdes fritos. Agora vai? Não vai! Há que constatar a coragem do candidato Alckmin, contudo. Primeiro, enfrentou acirrada pancadaria para sagrar-se candidato. O argumento vencedor foi simples: se Serra ou Aécio forem para Brasília, quem será candidato a governador de São Paulo ou Minas Gerais? E por mais que baralhassem a equação, um mais dois continuava dando qualquer coisa, menos três. Nem o PSDB e nem o PFL teriam nomes de peso para impedir que o PT realizasse seu sonho de consumo: abiscoitar o governo paulista, levando de cambulhada o mineiro. Decidida a candidatura, novo impasse: o vice. Se numa das incógnitas iniciais o fator Aécio/José Agripino apresentava-se como combinação para derrotar o Presidente-candidato, na introdução do determinante São Paulo mudou-se o resultado. E ficou Alckmin/José Jorge, de vez que Agripino não entra em salseiro para perder. Aécio será reeleito em Minas, seguramente Serra vencerá em São Paulo, e tanto José Agripino quanto José Jorge prosseguirão combativos no Senado. Mais importante que a Presidência, para os estrategistas das oposições, seria bater o PT e seus aliados nacionalmente, numa versão criativa de ir-se o dedo, mas ficando a sociedade do forte anel do sudeste, numa paródia cabocla com todos os monstrinhos de direito. Nessa indigesta salada, Alckmin tentou manter o nível, o tom e a fleuma, evitando chutar o pau da barraca por saber que bronca é ferramenta de otário, e que, quem grita, perde a razão. Sabe que a travessa é estreita e a colher furada, mas acredita no que diz e no que faz. Não pretendia carregar no tempero. Perdidas as chances de defenestrar o Presidente, depois do estouro da fossa da corrupção, pelo medo de o país ser incendiado por atos violentos como os que ocorrem em São Paulo desde o lançamento da sua candidatura, Alckmin resistiu a entrar no jogo duro do vale-tudo por razões de caráter. Não é seu estilo. Acredita em atitudes mais dignas na vida pública, o que pareceu não ser do gosto de seus correligionários e aliados, embora fraquinhos em briga de rua. Neste momento em que o povão desliga a TV no horário eleitoral mais por tédio que por descrença, basta ver o patamar de intenção de votos da apimentada Heloísa Helena para deduzir quanto o PT perdeu dos fundamentalistas e do seu eleitorado mais esclarecido para constatar que, ante os fatos deletérios conhecidos, foi pouco. Fica comprometida, assim, a tese de contarem com a decadência ideológica e política do petismo mesmo tendo de engolir o Presidente Luiz Inácio por mais quatro anos, desde que espremido entre a maionese do PMDB de Sarney e o banho-maria das oposições. Falta menos de um mês para as eleições e Alckmin terá de conseguir, nesse tempo, o que não foi feito em muitos anos contra um movimento que tem ainda muita lenha para queimar para oferecer, no cardápio da sopa de lulas, chuchus verdes fritos à moda da casa."

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