Falecimento - Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento, filha de Pelé 31/10/2006 Dalila Suannes Pucci - advogada "Prezados Senhores, Apenas no final de semana tomei conhecimento da manifestação do colega PAULO R. DUARTE LIMA sobre meu comentário sobre o 'rei' Pelé (Migalhas dos leitores – "Falecimento - Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento, filha de Pelé" – clique aqui). Já disse alguém que nunca se sabe como nossas palavras serão lidas ou ouvidas e eu me assustei ao ver a interpretação do colega de que haveria preconceito em minhas palavras. Não foi este o motivo de meu desabafo. Como atuo na área de família, e tendo retornado de um Congresso realizado no Rio de Janeiro pelos membros do IBDFAM e CEPAD, onde foi discutido o AFETO entre os membros familiares, quis dizer que, apesar de brilhante em sua carreira profissional, Pelé falhou como pai ao não dar atenção aos filhos, como ele mesmo declarou quando da prisão de Edinho. (Nunca citando, porém, a filha Sandra...). Talvez o colega não tenha tomado conhecimento, mas, atualmente, é possível a impetração de pedido de perdas e danos morais, movido pelo filho que não tem visita/atenção/afeto, pelo pai, ou pela mãe. (Se tal medida gera efeito positivo, já é outra discussão. Eu, particularmente, penso que não se obriga ninguém a amar). Apesar da discordância manifestada pelo colega, tomo a liberdade de encaminhar as palavras de Artur da Távola, que, como eu, percebeu a dor de Sandra. 'A MORTE DA FILHA DE PELÉ Artur da Távola Não sou juiz de pessoas. Cada ser humano tem direito a seu mistério e à sua subjetividade. Por isso, não escrevo para julgar o Pelé, como tenho lido fartamente por aí. Quero apenas traduzir um sentimento especial que me dominou, quando soube da morte de sua filha, em Santos, precoce, por câncer fulminante. Sempre que a vi na televisão, impressionou-me a semelhança com o pai e com os traços de Pelé atenuados e arredondados. Pelé tem olhos mongólicos. Ela os possuía redondos, tristes e belos. Pelé é e está sempre a sorrir, devolvendo à vida o que esta lhe deu em milagre e dádivas. Essa moça, não. Apesar de bonita de rosto, padecia de uma solidão adivinhada, precisou do exame do DNA para ser reconhecida como filha, o pai nunca ou quase nunca a visitou. E mandou uma coroa a seu enterro. Não compareceu (compadeceu?) Há mistérios empáticos entre os seres humanos. No rosto daquela quase menina, como diz o samba do Sérgio Bittencourt sobre seu pai Jacob do Bandolim, ficou "a saudade dele a doer em mim". Desconheço causas, intimidades, pormenores da vida dela. E as razões do pai. Apenas sei que havia sido reeleita Vereadora, o que já é sinal de trabalho aprovado. Como vivem as pessoas que procuram um pai ou a mãe por toda uma vida? Digo-o por mim. Meu pai não me abandonou. Ao contrário, amava-me profundamente. Porém morreu quando eu tinha recém feito onze anos de idade. Entrei na puberdade, adolescência, juventude, na vida, sem pai. Um dia, muitos anos depois, li em Freud que a perda de um pai nesta fase constitui-se em irreparável tragédia. Por sorte, minha mãe soube ser "mãepai". Mas a verdade é que, aos setenta anos, ainda procuro meu pai nas dobras da memória, nos esconderijos do Mistério. E, desde rapaz, sempre selecionei inconscientemente alguns pais optativos nas pessoas com quem convivi, admirei e muito me influenciaram: Anísio Teixeira, Marcial Dias Pequeno, Dr. Américo Piquet Carneiro, Orizon Carneiro Muniz, Dr. Pedro Figueiredo Ferreira, Dr. Domício de Arruda Câmara, meu tio Geraldo Moretzsohn e meus outros tios Mario Gonçalves Ramos e Willy Koff. Sem falar em dezenas de escritores. Suspendo as menções, pois levaria a crônica inteira a citar nomes, mas sempre gente mais velha constituiu o meu rol de admirações filiais. Acalento e acalanto em minha empatia a solidão desta moça a quem o pai (por motivos que só ele deve saber) jamais a quis como filha. E sinto a sua dor como se minha fosse. Corrói saber de uma solidão cósmica e irreparável. É... acho que Freud tinha razão: perder um pai desde cedo, ou nunca tê-lo, é a dor de uma tragédia existencial que se leva para o túmulo. Em vida, jamais desaparece. Quem souber responder de modo cabal a este sortilégio do destino, por favor, cartas para o endereço de meu site (clique aqui). E, desde já, agradeço a iluminação que vier a receber. Artur da Távola'." Envie sua Migalha