Gás natural 13/11/2006 Pedro Luís de Campos Vergueiro "Em passado recente, com a construção de um gasoduto para não botar defeito, estimulou-se o consumo do gás natural que iria substituir o gás de petróleo. Estimulou-se é mera maneira de dizer: em verdade os consumidores foram obrigados a consumir a nova energia e, consequentemente, a substituir ou adaptar os respectivos encanamentos, se necessário, fogões e aquecedores. Uma das justificativas era a de que o gás natural era naturalmente menos custoso, menos poluidor etc. e tal. Pois bem, como o mundo está sempre dando voltas, a situação no tocante ao gás natural mudou: por entender que modificar o status quo representaria momentos de glória na imprensa mundial, quem fornecia resolveu fazer valer seus poderes e sua soberania. O novo Presidente Boliviano, nem bem empossado, começou a fazer gestões de pressão sobre o governo brasileiro. A Petrobras, que investira na Bolívia com o ideal, dentre outros, de fazer crescer a exploração do gás natural e difundir o seu consumo, passou a sofrer ameaças de expropriação e coisas tais. E, consequentemente, a nova ordem boliviana passou a exigir a revisão dos contratos em vigor, tanto aqueles que dizem respeito à prospecção como o que estabelece o preço de venda do produto. Em suma, toda essa inconstância e constância nos negócios internacionais, no frigir dos ovos, não vai gerar outra coisa senão a alteração do preço do gás natural boliviano, para mais, é claro. Isto, ademais, significará um ônus adicional para o bolso do cidadão brasileiro. O advento desse aumento, aliás, já está sendo divulgado pelas autoridades federais. Ora, não faz muito tempo a governabilidade petista ufanou-se por ter atingido (será mesmo?) a independência das necessidades do país de petróleo. Isso ocorreu a duras penas e mediante pesados ônus, sem dúvida, para os beneficiários cidadãos brasileiros. Por outro lado, o mesmo intenso estado de ufania tomou conta da governabilidade petista com a industrialização do bio-diesel e com criação dos automóveis movidos à gás e os automóveis flex (álcool ou gasolina). E quanto ao gás natural? Pesquisas feitas descobriram, em 2003, na Bacia de Santos grandes jazidas de gás natural. Note-se e anote-se que a certeza desse descobrimento se consumou no início da governabilidade petista. O que se fez desde então? Ao que parece, nada que objetivasse a exploração dessa riqueza que garantiria mais essa independência, a independência na produção de gás. Este assunto, porém, somente acabou por tomar conta dos noticiários no momento em que a governabilidade petista foi colocada no centro da crise do gás, criada pelo amigo-da-onça Evo Morales. Se o governo, entretanto, tivesse tomado as providências necessárias para a exploração das nossas jazidas de gás natural, vale dizer, tivesse tido vontade política, a atual crise do gás boliviano poderia ter acontecido como veio de acontecer, mas as coisas não teriam tomado rumo diverso, visto que, pelas previsões neste ano de 2006, o ano da crise do gás, já estaríamos pelo menos começando a explorar comercialmente as jazidas da Bacia de Santos. E, certamente, a Petrobras e a governabilidade petista poderiam estar falando mais grosso com o Presidente Evo Morales. E os brasileiros poderiam estar realmente ufanos de sua auto-suficiência na área. E quanto à Petrobras? Que ela fosse buscar seus direitos nos Tribunais Internacionais e bolivianos. Afinal, é conhecida a regra de que quem planta em terreno alheio corre o risco de perder a semente e os frutos. Os antigos romanos escreveram essa regra e, desde então, vem sendo reproduzida nas Leis civis dos países que adotam a sistemática romana disciplinadora do convívio em sociedade. Será possível que a governabilidade petista ignorasse regra tão antiga? É possível, é possível sim." Envie sua Migalha