Declaratória

20/11/2006
Abílio Neto

"Prezado amigo Dr. Tiago, eu já li muita coisa sobre o movimento de 1964, mas me perdoe se não guardo boa impressão de um autor que intitula sua obra de 'A Verdade Sufocada'. É um título muito pretensioso pra um livro que quer simplesmente fazer História. De 1985 para cá, todos que quiseram contar esse capítulo da nossa história recente, puderam fazer isso livremente e sem maiores problemas. De militares até jornalista que apresenta o Jornal da Globo, todos tiveram oportunidade de contar sua história. Por que iriam sufocar justamente a verdade do livro do hoje coronel Brilhante Ustra? Acredito que lá para o ano de 2064, os historiadores, isentos de paixões, já terão escrito a versão definitiva da História. E com certeza farão justiça aos esquerdistas, aos trabalhadores menos favorecidos do campo, ao governo Jango e aos militares das nossas Forças Armadas. Eu que na juventude vivi toda a agitação política de Pernambuco (1963/1964), por morar na zona canavieira, centro das pregações da esquerda, também posso falar das mentiras apregoadas pela direita e da opressão dos trabalhadores e da sua luta maior: fugir da miséria. A luta armada era coisa pra segundo plano, e assim mesmo, só existente na cabeça de alguns líderes esquerdistas. Não esqueço que as famosas Ligas Camponesas nasceram de uma simples associação de pequenos foreiros de terras que, a princípio, só pretendiam angariar fundos pra comprar caixão pros seus associados, pois a miséria era tanta que um caixão servia para muitos defuntos. Em Pernambuco, a primeira greve de trabalhadores rurais e o Acordo do Campo conseguido pelo Dr. Arraes em 1963, garantindo pelo menos o pagamento do salário mínimo aos camponeses empregados da agroindústria, foi a senha para a direita golpista se assanhar. Nos primeiros dias de abril de 1964, ainda presenciei alguns soldados revirando casebres em busca de camponeses que encabeçavam o movimento sindical. Diziam que procuravam os 'Inimigos da Pátria'. Estavam errados, pois os inimigos da Pátria (de Pernambuco) moravam em Recife nos bairros de Boa Viagem e Casa Forte. Até hoje é assim! Abraços,"

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