Governo Lula

14/12/2006
Antônio Carlos de Martins Mello – Fortaleza/CE

"O senhor presidente Lula não terá razão de ficar magoado comigo, primeiro porque não lerá Migalhas nem me conhece, ai de mim; segundo porque o voto é secreto e, em razão disso... deixa pra lá. E temos algo mais, cronologicamente em comum: disputamos nossa primeira e contemporânea eleição presidencial sindical em 1975, ele no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo; eu, no dos bancários do Rio, sem falsa modéstia muito mais importante, do ponto de vista de época, de categoria e de geografia. Daí ele partiu até aonde chegou, a suprema magistratura 'deste país', como costuma expressar-se atualmente. A anulação judicial da minha derrota, segundo me informaram depois, dar-se-ia quando eu já não tinha possibilidade de qualquer providência acauteladora de meu amor próprio e dos interesses da classe a que pertencia, tornando-se inócua sob vários aspectos e segundo está registrada no sítio daquele órgão de classe, na Internet, q.v. Todavia, rondou o meu confessionário uma versão não muito lisonjeira sobre as forças que o apoiaram, naquela ocasião, parecendo-me agora muito curiosa sua teoria a propósito de ex-esquerdistas, que é a mesma a mim manifestada pelo inefável Bob Fields, com quem tive a felicidade de trocar idéias no outono de sua rica existência neste mundo. Migalhas desta semana reportou-se ao assunto, trazendo à balha comentário de Cony, que comunga comigo e com Roberto Campos a qualidade de ex-seminarista católico (Migalhas 1.556 – 13/12/06 – "Por aí – I"). Fraternalmente, Roberto Campos lançou-me em rosto, diante de vários amigos, em Fortaleza, o seu entendimento de que os esquerdistas de juventude tornam-se direitistas utilitários na maturidade. Não foi o caso dele, Roberto, que sempre tinha sido, digamos, de direita, embora direita inteligente e respeitável; mas, quanto ao nosso presidente atual, que me desculpe, qual foi o fenômeno que, só agora, em boa hora e de boca própria, ele nos revela, como algo autobiográfico, não sei. Não sei. Não sei também por quê me vem à lembrança, coincidentemente com a morte de Pinochet, a figura do cabo Anselmo, que, por aqueles anos, queria subverter a disciplina em nossa gloriosa Marinha de Guerra, lançando subalternos contra almirantes. Tudo parece absurdo, mas que eu pretendia lançar em letra de forma para posterior registro de curiosos das coisas curiosas de nossa pátria amada. O que têm em comum esses personagens melhor dirá o futuro, melhor dirão os que viverem."

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