Metrô/SP

22/1/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Os jornais de São Paulo continuam, sem tréguas, a nos brindar com manchetes e notícias no mínimo ridículas. O Estadão de domingo, no Caderno Metrópole, traz a manchete: 'Especialistas afirmam que solo é a chave para explicar tragédia'. Na página C3, outra manchete reveladora: 'solo causa 40% dos colapsos em escavações'. Brilhante a conclusão, principalmente em se considerando que a tragédia da Estação Pinheiros do metrô, na qual desabou o solo em razão das escavações feitas no subsolo, não poderia ter outra explicação que não estivesse, exatamente no solo. Por outro lado, não parece estranho que, ao se fazer uma escavação, haja o risco de colapsos do solo. Principalmente se houver uma explosão no subsolo, como foi o caso daquela obra, que ruiu exatamente três minutos após uma explosão subterrânea provocada. Mas, na seqüência de explicações para o óbvio, há algumas realmente interessantes, como a do engenheiro da Themag, projetista da linha 4, que afirmou que a rocha que envolvia o túnel 'não teve o comportamento de uma rocha'. Aí, talvez, nova vertente para a solução do problema: o mau comportamento da rocha! Já se pode esperar um culpado: a rocha! Já um professor da Escola Politécnica da USP ficou surpreso com a velocidade do movimento do solo após a explosão subterrânea: 'Esse movimento de solo costuma levar horas ou dias'. Não sei ao certo se seria diferente no caso de ter demorado mais, já que o movimento de solo aconteceria, mais horas ou dias depois, provavelmente matando outras pessoas que tivessem o infortúnio de lá estar quando ocorresse. Outra explicação interessante foi a de um professor do ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, que nos trouxe a informação de que os estudos de solo costumam, tradicionalmente, ser feitos por universidades localizadas em países de climas temperados, que não conhecem o solo de países tropicais. Por isso, aquele professor afirma que é ‘sempre preciso considerar a possibilidade de imprevistos’. Realmente, não sei se as viagens pelo óbvio ululante são dos entrevistados ou da má redação daquele jornal, mas, de uma maneira ou de outra, as informações deixam a desejar. Saber que escavações e explosões subterrâneas podem ser responsáveis pela ruptura do solo, ou que o solo explica a tragédia, não fica no óbvio, mas chega ao ridículo. Por isso, acho bom que, desde já, tenhamos em mente que acidentes com aviões podem acontecer no ar, assim como tsunamis quase sempre ocorrem no mar, assim como desabamentos ocorrem no solo. Aceitos esses princípios, parece ser uma boa hora para que os especialistas cheguem a alguma conclusão de interesse."

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