Metrô/SP

22/1/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"As pessoas de minha geração ainda se lembram das antigas músicas de Chico Buarque, em especial da chamada 'Funeral de um Lavrador', que assim se inicia:

'Esta cova em que estás com palmos medida

É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo nem fundo

É a parte que te cabe neste latifúndio.'

E a música prossegue, com a letra triste afirmando que 'não é cova grande, é cova medida... É uma cova grande para teu parco defunto...'. A letra da música me veio à mente com a notícia de que uma das vítimas da cratera do metrô, o motorista de caminhão Francisco Sabino Torres, não teve um enterro muito tranqüilo. É que o Consórcio Via Amarela, que pagou as despesas funerais, optou por um caixão de luxo, enquanto que a cova, no Cemitério da Alegria, não era de luxo, mas um jazigo popular, cujo retângulo concretado fora preparado para receber urnas mortuárias no padrão popular, ou seja, menor. Vai daí que o caixão não cabia na cova de concreto. E a solução encontrada foi enfiá-lo de lado. A história trágica do morto, soterrado sob 38 metros de terra no desabamento da Estação Pinheiros do Metrô, é emblemática. O motorista teve seu velório em casa, na Vila Guilherme, em rua de terra que não permitiu, em razão da lama provocada pelas chuvas, que o carro da funerária chegasse ao local. Pessoas que acompanharam o velório carregaram o caixão nas costas, na lama, ladeira acima, por 200 metros, até o asfalto. E, chegando ao cemitério, o caixão não cabia na cova, pelo que foi o mesmo enfiado de lado na cova que, ao contrário da letra da música, não era de bom tamanho..."

Envie sua Migalha