Câmara dos Deputados

9/2/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Há males que vem para bem, diz o conhecido provérbio. Quando apareceram os resultados das urnas, dando a Clodovil cerca de 500 mil votos, muitos acharam que se tratava de voto de protesto, mais um cacareco eleito. No entanto, o que se viu ontem na Câmara dos Deputados parece levar a outra conclusão, a de que a Câmara dos Deputados precisava de um Clodovil. Em seu primeiro discurso, surpreendeu-se Clodovil pelo comportamento dos deputados, por certo por não estar habituado a ver as deploráveis atitudes deles nas sessões, em pleno trabalho, se é que ao que fazem cabe o nome de trabalho. De fato, o que se assiste é ao mais profundo desrespeito. Ninguém se senta, não obstante cada qual tenha seu lugar para tanto, muitos falam ao telefone celular aos berros e gargalhadas, e ficam todos de pé, cumprimentando uns aos outros e, o que é mais triste, ao menos para nós que os pagamos, rindo às escâncaras, debochada e escrachadamente, sem que ninguém possa ouvir o que se passa naquela sala. A atitude de deboche dos deputados, o desinteresse pelo que acontece, ou deveria acontecer, no plenário tem sido motivo de indignação por quantos assistem a esse absurdo modo de proceder dos parlamentares, o que demonstra seu mais absoluto desprezo até pelos mais comezinhos princípios de mera educação. Mas, voltando ao primeiro discurso de Clodovil, ele interrompeu sua fala para reclamar, no microfone, da falta de atenção, e perguntou, aos circunstantes, no caso meros transeuntes, o que significava, afinal, decoro, ou a falta dele. E o resultado foi espantoso. O silêncio se fez e os trezentos e tantos 'representantes do povo' finalmente fizeram silêncio, todos a ouvir o que tinha a dizer aquele que lá estava, levado à casa por meio milhão de votos. Um aparte foi solicitado pelo deputado Paulo Maluf, eleito com quase um milhão de votos, para aplaudir Clodovil. Digam o que quiserem, mas os dois carregam quase um milhão e meio de votos, muito mais do que aquela multidão de mal educados que lá estão se arvorando em representantes do povo. Realmente, foi preciso um Clodovil para colocar ordem naquela bagunça. Talvez daqui para frente, chegue o dia em que os deputados se ocupem dos assuntos para os quais estão sendo pagos e percebam que talvez, talvez mesmo, a Câmara dos Deputados seja o local apropriado para apresentar Projetos e votar Leis de interesse público, e não uma extensão do recreio dos tempos escolares, um local de diversão, onde cada qual se entretém com o que quer, como pândegos na baderna que se instala a cada dia no parlamento. Pedindo perdão pelo trocadilho, quem lá está é um parlamentar e não para lamentar."

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