Ronaldo Esper

12/2/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"A migalheira Léia Silveira Beraldo, advogada em São Paulo, contestando comentário meu acerca do furto de vasos no cemitério do Araçá pelo notório estilista Ronaldo Esper, afirma que talvez eu não saiba, mas há distúrbios psíquicos que levam a pequenos furtos (Migalhas dos leitores – "Ronaldo Esper" – clique aqui). E, em abono a sua afirmação, menciona dois casos de cleptomania, informando que ambas as pessoas mencionadas se submetiam a tratamento para depressão crônica. Até aí tudo bem. Mas, como somos ambos os Silveiras, eu e a colega Léia Silveira Beraldo advogados, e a discussão desse caso está enveredando para o campo da Medicina, procurei estudar um pouco o assunto. Em primeiro lugar, quero informar à colega que é do meu conhecimento a existência de distúrbios psíquicos que levam a pequenos furtos, e quero dizer, também, que aceito sem reservas a informação de que as duas pessoas mencionadas pela colega estivessem sob tratamento para depressão crônica. Mas sei, também, que não é a depressão que leva à cleptomania, que se caracteriza pela impossibilidade de resistir ao impulso de tomar para si o que não lhe pertence. De fato, a cleptomania é uma doença em si, que a psiquiatria trata como transtorno de controle dos impulsos. Segundo Joel Renno Junior, da USP, ‘a principal hipótese é que os cleptomaníacos tenham uma disfunção ou uma diminuição da quantidade de serotonina e dopamina (neurotransmissores responsáveis pelo controle do impulso) na fenda sináptica (espaço entre um neurônio e outro)’. 'Essa disfunção' - continua o especialista - 'provoca o descontrole do impulso e, consequentemente, pode levar a quadros de ansiedade e depressão'. Ou seja, a cleptomania pode levar a um quadro de depressão, e não vice-versa. Não é o deprimido que, em razão do tratamento por antidepressivos, pratica a cleptomania, mas é o cleptomaníaco que, após o ato pode ser levado a um quadro de depressão. Até porque, a cleptomania, ou melhor, o ato cleptomaníaco, se caracteriza por uma crescente tensão antes do furto e prazer, satisfação e alívio ao cometê-lo. 'É o estímulo a essa sensação que leva essas pessoas a cometer o ato', afirma a psicóloga Nancy Erlach. Segundo ela, 'poderia se fazer uma analogia ao consumo de drogas, ou a compulsão por comida, pela sensação que essas ações proporcionam'. Em resumo, a cleptomania, o ato de furtar objetos que podem não ser necessários para uso do cleptomaníaco e nem ter valor monetário significativo, produz prazer e satisfação, em primeiro lugar. Posteriormente, pode levar à depressão e depressão se trata com antidepressivos, e não o contrário. Não se trata de pessoa que sofre depressão e, em razão disso toma antidepressivos e, por causa do medicamento é levada a um distúrbio psíquico que a faz furtar objetos, impulso esse chamado cleptomania. Vania Fortuna, psicanalista e conselheira em dependência química na clínica Psicomed, em seu artigo 'Cleptomania: compulsão social e afetiva ? quando roubar compensa', afirma que sabe-se que indivíduos acometidos pela cleptomania frequentemente apresentam outros distúrbios associados, como a depressão. E não o contrário e, muito menos, que remédios antidepressivos, tomados por deprimidos possam induzir à cleptomania. Aliás, por falar em medicamentos, o mesmo Dr. Joel Renno Junior, Doutor em psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP, em seu artigo 'Cleptomania, que doença é essa?', informa que entre os medicamentos utilizados para tratar a cleptomania estão os antidepressivos serotoninérgicos. Trocando em miúdos, os cleptomaníacos costumam melhorar muito com medicamentos anti-impulsivos associados aos antidepressivos, como se pode ler no tópico 'Psiquiatria e Família', do Portal da Psiquiatria, em (clique aqui). Nesse mesmo Portal, na parte que define um a um certos transtornos psíquicos, e tratando especificamente da cleptomania, encontra-se a informação no sentido de que, 'na simulação, o indivíduo pode fingir os sintomas da cleptomania para evitar processos criminais'. Aliás, porque estamos todos falando de cleptomania e cleptomaníacos, se em momento algum o estilista alegou ser portador de tal distúrbio? O que aconteceu, segundo ele, e todos acompanharam sua prisão e as entrevistas subseqüentes, é que, em razão de perdas familiares nos últimos dois anos, passou a sofrer de depressão e, em razão disso, estava tomando medicamentos antidepressivos e que, com o efeito, de tais medicamentos, foi levado a tentar furtar os tais vasos no cemitério. E isso, pelos motivos acima, nessa seqüência, penso que não pode ter ocorrido. Mas, é só uma opinião, já que não sou médico."

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