Campanha da Fraternidade - "Fraternidade e Amazônia - Vida e missão neste chão"

23/2/2007
Wagner de Barros - advogado

"Visão destorcida (e injusta) da história. O frontispício da edição n. 1.599 (22/2/07 – "Hiléia"), a propósito da recente campanha da CNBB com o tema principal sobre a Amazônia brasileira, contempla uma citação atribuída ao mui conspícuo varão pernambucano, intelectual e político brasileiro do Segundo Império, Joaquim Nabuco. Nela foi sustentado - com a autoridade e talento nunca malferidos daquele notável jurista e diplomata - que as extensas plagas amazônicas, então pertencentes à Espanha, por força do Tratado de Tordesilhas, antes mesmo da discutida descoberta de Cabral, teriam sido incorporadas ao nosso patrimônio territorial, após a ocupação da colônia portuguesa pelos espanhóis (entre 1580 a 1640) tão simplesmente por obra e graça da 'sorte' e 'dádiva de Deus'. Nada é detestável e pior do que a meia-verdade, notadamente quando se trata de fato histórico sujeito a idiossincrasias ideológicas, quase sempre geradoras de condenação ou indulgência que as versões destilam sob o peso do prestígio ou influência de seus autores. O circunlóquio, com a maxima venia, serve ao reparo que se impõe para reconstituir e exaltar a legítima e indômita conquista dos portugueses e brasileiros de grande parte do território amazônico, quando ocorreu a liberação das fronteiras então fixadas pelo meridiano de Tordesilhas, eis que, com a unificação dos tronos, a dominação espanhola prevaleceu por mais de meio século, o que permitiu que os nossos antigos colonizadores, com espírito de aventura, cobiça e, sobretudo, coragem e resistência, ultrapassando a famosa e imaginaria linha divisória, adentrassem pelo bravio sertão e inóspitas paragens, até as fraldas dos Andes, onde fincaram os seus graníticos marcos de posse, alargando os domínios de sua fé e de sua língua, e ali deixaram as sementes da futura nação, una e fraterna, de que hoje nos orgulhamos. Sabe-se que, finda a ocupação espanhola, houve tentativa de retomada das novas áreas conquistadas pelo desbravamento e penetração dos súditos lusos, em vão, porém, eis que prevaleceu o princípio do uti possidetis, que o Tratado de Madri acabou por consagrar. O Brasil, sofrido, mas continentalmente imenso, que hoje amamos, não foi uma obra da 'sorte', nem uma 'dádiva divina'. Somos, sim, legatários das terras graças aos feitos épicos e da bravura dos que ousaram avançar sobre as fronteiras de Tordesilhas, e lá sedimentar a ação civilizadora que construiu os pilares da nação brasileira."

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