Carta a um amigo

2/4/2007
Alexandre de Macedo Marques

"Caríssimo, Meu recesso pode ser lido como desencanto. O andar por S. Paulo experimentando a dolorosa experiência de ter escolhido, como lar, uma cidade formada por indivíduos de tão diversas etnias que se transformaram em hordas de bestas desenfreadas - sem lei, sem respeito, sem princípios, sem ética, sem pudor - torna sem sentido ficar deblaterando a opção do petismo/lulismo. Moro num sofisticado bairro paulistano cuja situação geográfica torna-o caminho opcional para gentes de todos os cantos da cidade. Um espetáculo cotidiano de estupidez, selvageria e desrespeito às mais comezinhas normas de civilidade - do trânsito ao necessário respeito mútuo entre seres humanos. A ausência da autoridade - e repressão, oriunda da autoridade moral e do necessário respeito às normas - transformou este bairro, e a cidade de S. Paulo, numa arena onde a lei do mais estúpido, mais irresponsável - talvez criminoso - é dominante. E mais forte nesta selva é, por exemplo, possuir o veículo mais caro e robusto capaz causar maior temor e dano. E isso abre espaço para não respeitar sinal vermelho, estacionar onde é proibido, de maneira selvagem fazer conversão atropelando a rotunda, andar em velocidade indecente em ruas internas, avançar dolosamente para cima de quem atravessa a rua... e ainda fazer gestos obscenos ou proferir pesados insultos se alguém protesta. Quando não ameaça de agressão física. A indecência que são os chamados 'reboques' que equipam os veículos, transformados em armas, os 'insufilm' ilegais que transformam marginais de todos os níveis sociais em fantasmas inidentificáveis, a estupidez dos decibéis produzidas pelas motocicletas e carros dos energúmenos, a loucura do som com que idiotas estimulam sua ferocidade ao volante... Era famosa a boutade que os de 'mau caráter' engoliam os cavalos do motor para fazerem as suas boçalidades. Hoje não só engolem os cavalos dos motores como se 'blindam' (eta palavrinha petista) com a suas carrocerias Pagero, Mitsubishi e similares e debocham atrás dos seus insufilmes que os tornam invisíveis. Passam-se dias sem que eu veja qualquer autoridade em seu mister de zelar por leis e normas. Só policiais exibicionistas imaginando que estão em alguma série de TV, dirigindo como alucinados, acionando espetacularmente suas sirenes, exibindo suas metralhadoras... para nada. Bem, de vez em quando acertam algum popular que fugia dos bandidos... Um tipo de celerado, cada dia mais numeroso é constituído - alô feministas - pelo sexo feminino. O biotipo é sempre o mesmo. Cabelos escorridos à chapinha, fumantes e falando ao celular, jeitão neurótico. Ah! E a praga dos chamados prestadores de serviços, com seus chevetes, brasílias, opalas e quejandos, dirigindo como se estivessem num safári no agreste. Parafraseando o oráculo de Garanhuns, ‘até parece a África’. Enfim, caro amigo, o problema não é só o Lula e seus miquinhos punguistas e 'cumpanheros' de boquinhas. É o povo, somos nós, o novo 'Homo brasiliensis' pós anos 50. Então, só volto à liça quando passarmos a fustigar essa maioria execrável do povo brasileiro e sua falta de educação, seriedade, honestidade e ética. Dela nascem as mazelas que levam ao estágio atual da política no país. Nasce, dessa maioria, o petismo, o Lula, os vereadores, os deputados, os senadores que desgraçam o principio da representatividade. O malufismo e figuras deploráveis como a Marta Favre e semelhantes. Os Delúbios, João Paulos, Chinaglias, Paulinhos, os republicanos petistas de S. André, os cafetões/onas da 'cidadania', do 'republicano' da 'inclusão', das 'dívidas históricas' e tantas calhordices ao desnaturarem o significado das palavras e reinventando a História. Combater o efeito pode ser razoável. Combater a causa é, certamente, melhor e mais eficiente. O Congresso, os políticos em geral são a cúpula. Mas a grande base, que é a massa de cidadãos comuns, está corroída. É uma falsa premissa que os de cima devam dar o exemplo. Nada disso. Os de cima são o que são porque a base é igual e os escolhe por um mecanismo de similaridade. Fosse a base diferente, certamente a cúpula também o seria. Como o foi em outras épocas da História do país. Com as iniludíveis exceções inerentes ao 'humano'. Desculpe-me, caro amigo. Mas não resisto a citar o Ivan Lessa, há 40 anos refugiado em Londres, com uma única viagem ao país. Desse único retorno, a pérola. 'O brasileiro é um povo com os pés no chão. E as mãos também'. Abraços,"

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