Biografia não-autorizada - Roberto Carlos em Detalhes

2/5/2007
Zé Preá

"Amado Diretor: outro dia, após a publicação do Circus nº 37 (13/4/07 – clique aqui), critiquei o Roberto Carlos em função de certos comportamentos paranóicos que adota em decorrência do TOC. O  A. Cerviño me censurou e eu calei. Mas nós que temos certas doenças, não podemos ficar escravizados por ela. Digo nós porque também sou vítima do TOC, porém, tenho um lado muito bom comigo que é o do humor e, nesse sentido, a minha salvação é o Zé. O meu médico acha isso e, só por isso, reconhece, não caio em depressão braba. Mas, voltando ao tema do Circus, aquele texto me impressionou:

 

"Por que falo disso tudo? Para dizer que o Roberto Carlos, que tem uma belíssima música, pouco conhecida mas que inspirou o nome de um jogador de futebol, até com passagem pela seleção brasileira, talvez não tenha consciência do bem que fez a tanta gente falando de algo que as pessoas preferem silenciar. A tal música chama-se O Divã, o que produziu o nome do jogador Odivan. Teriam os pais do jogador conhecido a letra daquela música? Ali já se poderiam notar as tendências à depressão naquele admirável compositor, ao recordar o acidente que o aleijou, como narrado numa sessão de psicoterapia. Veja se não é:

 

'Relembro a casa com varanda,

muitas flores na janela,

minha mãe, lá dentro dela,

me dizia num sorriso,

mas na lágrima um aviso,

pra que eu tivesse cuidado

na partida pro futuro

eu ainda era puro

mas num beijo disse adeus.

 

Minha casa era modesta

mas eu estava seguro,

não tinha medo de nada,

não tinha medo de escuro,

não temia trovoada.

Meus irmãos à minha volta

e meu pai sempre de volta

trazia o suor no rosto

nenhum dinheiro no bolso

mas trazia a esperança.

 

Essas recordações me matam,

por isso eu venho aqui.

 

Relembro bem a festa, o apito

e na multidão um grito

o sangue no linho branco

a paz de quem carregava

em seus braços quem chorava

e pro céu ainda olhava

e encontrava esperança

de um dia tão distante

pelo menos por instantes

encontrar a paz sonhada.

 

Essas recordações me matam,

por isso eu venho aqui.

 

Eu venho aqui me deito e falo

pra você que só escuta

não entende a minha luta

afinal, de que me queixo?

são problemas superados,

mas o meu passado vive

em tudo que eu faço agora

ele está no meu presente

eu apenas desabafo

confusões da minha mente.

 

Essas recordações me matam,

por isso eu venho aqui'.

 

Pois bem, voltei agora a esse tema porque na sexta-feira passada a Justiça paulista homologou um acordo em que a editora se comprometeu a retirar de circulação o livro 'Roberto Carlos em detalhes'. Se alguém viu a cara do escritor na saída do Fórum, só a imagem dele dispensa qualquer texto! O Paulo César Araújo é um sujeito sério, pesquisador nato, e trabalhou quinze anos para escrever esse livro. Qual é o seu pecado? Unicamente a riqueza de informações. Justamente o que o Roberto Carlos não queria. Mas o dr. Adauto Suannes, diplomado em psicologia pela escola da vida, nesse campo conhece mais o RC do que esse seu biógrafo censurado, e, assim sendo, sabe que o Roberto jamais permitiria que fossem publicados detalhes daquele acidente de trem do qual nunca se recuperou (essas recordações me matam). Feriu-o, mortalmente, também,  a informação de que andou de muletas até os quinze anos. Tudo isso foi dito sem sensacionalismo nenhum porque o Paulo César é um grande fã de Roberto Carlos. E por ser súdito-fã, é que ele ficou derrubado, completamente nocauteado, sujeitando-se até a retirar do livro aquilo que RC não gostou. Tudo em vão, o rei estava inflexível. É preciso, no entanto, que as razões do Roberto sejam compreendidas, muito embora quando a sua biografia autorizada for finalmente publicada, será uma chatice só porque só conterá o que ele quiser. Até lá, torço sinceramente para que ele fique melhor da doença. Não creio que caia do trono, porém, como transtornado que é, teve o seu dia de rei tirano! Abraços do"

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