Japão - ministro acusado de corrupção se suicida

31/5/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Desde criança ouvia de meu pai a expressão 'perigo amarelo', quando se referia a algo realmente perigoso. Na época, não entendia bem o que queria ele dizer com isso. Mais tarde, fiquei sabendo que a expressão fora cunhada por Guilherme II, da Alemanha, passando, posteriormente, para mito da literatura popular e para a imprensa sensacionalista. O medo das hordas amarelas cavalgando pelas estepes siberianas tornou-se, mais tarde, suporte da teoria da conspiração. Na seqüência, e por muito tempo, na mais pacífica lavanderia do bairro chinês poderia estar escondido o mais pérfido e venenoso inimigo da civilização ocidental. Hoje em dia, porém, as coisas não são mais assim, devotando os ocidentais grande admiração pela cultura oriental e respeito pelas realizações científicas e tecnológicas principalmente dos chineses e japoneses. E é de lá, justamente, que nos chegam, agora, exemplos políticos que, guardadas as proporções, e respeitadas as circunstâncias locais, deixam algo a pensar, principalmente nessa época de corrupção epidêmica pela qual passa nosso país. No Japão, agora, há poucos dias, morreu o Ministro da Agricultura, Florestas e Pesca, Matsuoka Toshikatsu, que se suicidou, imerso que estava em um escândalo por suposta malversação de fundos públicos (Migalhas 1.663 – 28/5/07 – "Haraquiri"). Foi encontrado enforcado, na última sexta-feira, em um prédio residencial em Tóquio, e encaminhado a um hospital com parada cardíaca, morrendo na seqüência. Segundo as notícias, o Ministro estaria, ainda, envolvido em doações a seu partido efetuadas por entidades com interesses em recursos florestais. Tais acusações, verdadeiras ou não, pareceram insuportáveis a Matsuoka. Na China, a justiça condenou à pena capital, Zheng Xiaoyu, ex-diretor da Agência Estatal de Alimentos e Remédios do país, por corrupção, consistente em negligência e por aceitar subornos da ordem de US$ 850 mil para aprovar centenas de medicamentos. Lá, como cá, parentes do funcionário estavam envolvidos, como sua esposa Liu Naixue e seu filho Zheng Hairong. Por causa de medicamentos falsos ou de má qualidade, dezenas de pessoas morreram. Depois da demissão de Zheng, e de sua expulsão do Partido Comunista, o governo chinês anunciou a revisão das licenças de cerca de 170 mil medicamentos. Não se espera, por certo, no Brasil, que os corruptos sejam condenados à morte, até porque não há pena de morte em nosso país. Também, não se deseja que se suicidem. Mas, com certeza, a população brasileira, estarrecida com os níveis alcançados pela corrupção em nosso país, tem o direito de esperar que os processos contra os corruptos sigam até o fim, e que esse tipo de gente seja banida da vida pública, e que cumpra a pena que lhes caiba, na prisão. E que, principalmente, devolva aos cofres públicos o que furtaram. Ao menos isso."

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