Artigo - Amor brega: bom de querer e melhor de viver ... 13/6/2007 Abílio Neto "Amor Brega 'Drão, o amor da gente é como um grão Uma semente de ilusão Tem que morrer pra germinar plantar nalgum lugar Ressuscitar no chão nossa semeadura Quem poderá fazer aquele amor morrer? Nossa caminha dura! Dura caminhada pela estrada escura. Drão, não pense na separação Não despedace o coração O verdadeiro amor é vão, estende-se, infinito Imenso monolito, nossa arquitetura Quem poderá fazer aquele amor morrer? Nossa caminha dura! Cama de tatame pela vida afora... Drão, os meninos são todos sãos Os pecados são todos meus Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão! Quem poderá fazer aquele amor morrer Se o amor é como um grão: Morre, nasce trigo, vive e morre pão! Drão'. Caro Dr. Jayme Vita Roso, parabéns pelo seu belíssimo texto, mas se prestarmos bem atenção todo amor é brega e quase toda música que fala de amor é brega também (Migalhas 1.672 – 12/6/07 – "Verbo Intransitivo" – clique aqui)! Veja Cama e Mesa, de Roberto e Erasmo. Existe música mais brega do que esta? Mas eu sempre tive uma admiração doentia por aqueles artistas que cantam lindamente o fim do amor, pois superar bem o término de um romance, pra mim é prova inconteste de sabedoria. E neste sentido, se o Migalhas permitir, irei contar uma belíssima história de amor. Outro dia, conversando com um amigo, sujeito atento e bem informado, ele me disse que admirava demais a música Drão, de Gilberto Gil, porém não se sentia muito bem ouvindo a letra porque ela tinha uma vestimenta homossexual. Aí, parei meu chope e lhe disse: cara, então achas que Drão é um homem? Ele saiu-se com esta: se nos dicionários não existe definição para o que seja drão, então drão deve ter sido um caso de Gil. E por que não pensar que drão fosse uma mulher? Falei. Foi então que essa tal palavra 'drão' passou a fazer parte do meu transtorno obsessivo compulsivo e só sosseguei depois que descobri a bela história que deu origem a essa música. A terceira mulher de Gil se chamava Sandra, apelidada desde menina de Sandrão, depois Drão. Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro (músico, morto em acidente), Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a 'sua' música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada. É Drão que fala: 'Nos separamos de comum acordo. O amor tinha se transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar. A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil'. Claro, Drão, também acho que é a música mais encantadora do Gil. E a Preta, aquela bela morena, tem toda razão pra chorar, afinal onde se viu coisa mais linda? Saudações do" Envie sua Migalha