Faculdade de Direito do Largo de São Francisco - 180 anos 9/8/2007 Águida Arruda Barbosa - Arcadas Turma 1972 "Ao Migalhas. Por ocasião da comemoração dos 180 anos de fundação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, rendo homenagem à antiga aluna Guita Kauffman Mindlin, falecida em 2006. Tive o privilégio de ouvir a narrativa de seus tempos acadêmicos em um alegre e inesquecível encontro, em abril de 1996. Compartilho, assim, o criativo relato de Guita Mindlin que, emocionada, inicia declamando a trova de todos os tempos, para contar a história de sua Turma de 1940. Com esta contribuição, desejo reavivar os valores das Arcadas, neste momento histórico em que se faz necessário resgatar a capacidade de sentir no peito a heróica pancada. 'Onde é que mora a amizade Onde é que mora a alegria No Largo de São Francisco Na velha Academia Cenário nacional do ano de 1940. O Estado Novo, declarado por Getúlio Vargas, mantinha fechado o Congresso Nacional. Nomeado interventor, Ademar de Barros governava o Estado. A elegante São Paulo da garoa era conduzida pelo Prefeito Prestes Maia, que enfrentava manifestações políticas, lideradas pelos estudantes de Direito das Arcadas, inconformados com as ruas estreitas da Paulicéia, causando os primeiros congestionamentos que começavam a invadir a cidade. Em criativo trocadilho, valendo-se do nome de Prestes Maia empunhavam faixas com a expressão: "São Paulo está Prestes a demolir". Cenário sócio-cultural dos anos 40. Nas frias manhãs, jovens provenientes de todos os cantos da paulicéia dirigiam-se às tradicionais escolas da capital. A cidade era marcada pela elegância que lembrava Londres. As moças estudavam, freqüentemente, em consagrados colégios religiosos, exclusivamente femininos, marcados por discretos e elegantes uniformes. Buscando um perfil eclético, estudavam piano, francês, com aulas de trabalhos manuais e puericultura. As mais destemidas estudavam na importante Escola Normal do Colégio Caetano de Campos, na Praça da República. Já os rapazes, provenientes de todos os Estados brasileiros, quando deixavam os tradicionais colégios religiosos, em sua maioria, buscavam a famosa Escola do Comércio Álvares Penteado ou a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, localizadas no Largo de São Francisco. O bonde era o transporte coletivo de todas as classes sociais. O operário e o doutor vestiam-se com a mesma elegância, trajando terno e gravata, com esmerado corte. As linhas 40, Jardim Paulista, e 30, Bosque da Saúde, traziam alunos e professores para o Largo, onde se formavam os representantes dos mais destacados cargos no cenário nacional e internacional. Era o apogeu da arte cinematográfica. O filme ‘E o vento levou’ fazia um sucesso extraordinário, cujo enredo de cunho sócio-político instalava, na cultura daqueles tempos, a possibilidade, à mulher, de participar das decisões na vida dos cidadãos. Cenário das Arcadas nos anos 40. Naquela década já se notava a tímida presença de uma ou outra moça, mesclando o cenário da velha academia. Eram as pioneiras. Porém, dentre os 209 formandos de 1940, que começaram o curso ainda no convento, inaugurando, em seguida, o novo prédio das Arcadas, havia expressiva presença feminina, com sete mulheres: Beatriz Stella Prado de Moura Andrade, Maria Farah Prado Moreira, Olga Moraes, Yoshiko Akinaga Haga, Yvonne Cartolano Alves dos Santos, Amery Pastore e Guita Kauffman Mindlin. A condição de mulher, segundo Guita, lhes causava apenas duas situações constrangedoras. A primeira era o uso de grandes chapéus, que atrapalhava a visão dos colegas. No entanto, a moda não admitia que uma mulher descobrisse a cabeça, durante o dia. Assim, neutralizavam esta diferença com os colegas da Academia, trajando tailleur de cor discreta, que se misturavam, facilmente, aos ternos masculinos, em mesclas de cinza e marrom. O segundo constrangimento às pioneiras alunas das Arcadas era a ausência de sanitários femininos, embora o prédio novo fosse amplo, com esmerado projeto arquitetônico. Tal fato logo foi solucionado, pois as elegantes Casa de Chá Leiteria Campo Belo e a Loja Sloper, localizadas na Rua São Bento, ofereceram o uso irrestrito dos sanitários às jovens alunas da Faculdade de Direito'." Envie sua Migalha