Tim Lopes

31/8/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Ninguém pode se esquecer do Tim Lopes. Tim Lopes era aquele repórter da Globo que foi capturado quando fazia uma reportagem sobre o tráfico de drogas no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Consta que foi 'entubado' em diversos pneus, teve a cabeça decepada a golpes de espada e, depois de encharcados os pneus com óleo diesel, queimado. Elias Maluco foi o autor da proeza. Elizeu Felício de Souza, o Zeu, era um de seus guarda-costas, e foi o encarregado da compra do óleo diesel e participante ativo do hediondo crime. Foi preso e condenado a 23 anos e seis meses de prisão em regime fechado. Regime fechado? Não tão fechado. Aqui no Brasil, como todos sabem, o princípio é o de reeducar o criminoso para que ele seja re-socializado, ou seja, para que ele possa ser reintegrado à sociedade. Para isso, criou-se o sistema de progressão do regime e espera-se que, nas penitenciárias, e no sistema penitenciário brasileiro, com os fantásticos meios educacionais disponíveis, os seres que praticam esse tipo de crimes brutais possam aprender boas maneiras e, devidamente re-socializados, estejam aptos a uma vida normal no seio da sociedade. E que ninguém duvide disso. Nossas penitenciárias contam com todo o aparelhamento para reeducar convenientemente as pessoas. O que não se entende é porque os presos não aproveitam as comodidades e as oportunidades oferecidas pelo Estado. O Zeu, por exemplo, logo no primeiro dia em que ganhou o benefício do VPL - Visita Periódica ao Lar - coisa tão mimosa, não? - desapareceu, escafedeu-se, como se diz. Muita gente vai até duvidar que Zeu tivesse um lar, ou que tivesse aproveitado o benefício para visitá-lo, se é que de fato o tinha. Mas, a verdade é que não correspondeu à confiança nele depositada. Que coisa esquisita, não? Na verdade, alguma coisa anda errada com o sistema de benefícios, já que, ao que parece, ou não vem reeducando bem, ou não vem sendo bem entendido pelos beneficiados. Também no Rio de Janeiro, o conhecido Marcelo QDP, ex-líder do tráfico de drogas do Morro do Dendê, recebeu o benefício do VPL e, sentenciado a 21 anos, nunca mais apareceu. A mesma coisa fez o Dudu da Rocinha e o Dinho Porquinho. Desde fevereiro do ano passado, quando o STF tornou inconstitucional o impedimento da progressão de regime até para condenados por crimes hediondos (tráfico, estupro, homicídio, entre outros), ao garantir o benefício para um preso que já tinha cumprido mais de um sexto da pena, a coisa desandou. Então, fica assim, qualquer que seja o crime, hediondo ou não, quer o criminoso tenha mãe ou não, quer o sistema possa ou não reeducá-lo ou 'ressocializá-lo', há a progressão do regime e, cumprida parte da pena, lá vai ele para fora, seja no dia das mães, seja para uma visita periódica ao lar, seja para o Natal ou outra data festiva... e, em grande percentual, não volta, ou melhor, volta ao crime. E a sociedade que se dane."

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