Profissões 4/9/2007 Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL "Depois que conheci a CBO, não consegui largar mais. Estou ficando realmente obcecado pela Classificação Brasileira de Ocupações e pelo trabalho desenvolvido pelo Ministério do Trabalho e do Emprego. É um verdadeiro manancial de cultura e de saber. Ainda não havia me deparado com fonte tão completa acerca de profissões, trabalhos e ocupações disponíveis em nosso país. Que trabalho, que dedicação tiveram seus organizadores, que critérios, que mentes abertas, que profundidade. Pensei que o ápice tinha sido o verbete Prostituta, que até tratava de sábios ensinamentos sobre como administrar o orçamento, com orientação sobre o aproveitamento do tempo e, até, o investimento em pepitas de ouro. É verdade que o tópico sobre os cargos e ocupações dos políticos, notadamente os integrantes do exercício e do Legislativo deixou a desejar, já que, apesar do esforço, não logrou encontrar substância para informar sobre as competências pessoais necessárias ou as áreas de atividades esperadas. Mas, também, pudera, reconheçamos, era difícil mesmo saber. Mas, como disse, fascinado pelo CBO, tenho-o como meu livro de consulta preferido, sempre à mão, essencial para enriquecer meus parcos conhecimentos e, devo reconhecer, tenho aprendido muito, muito mesmo. Dessa vez, fixei-me no verbete PADRE, um outro elemento importante da nossa sociedade. Peço desculpas, aliás, por ter só agora chegado ao Padre, após passar, primeiro, pelos políticos e pelas prostitutas. Mas o colega migalheiro Romeu A. L. Prisco já havia amenizado a questão, começada pelos sapateiros, alfaiates, amoladores de facas, realejos e lambe-lambes. Então, vamos ao CBO, e ao Padre, que também é uma 'ocupação' devidamente definida pelo CBO, na família correspondente, que inclui, dentre outras, as seguintes: 'Agaipi, Agbagigan, Agonjaí, Alabê, Alapini, Alayan, Apóstolo, Arcipreste, Axogum, Babá de Umbanda, Babakekerê, Babalawo, Babalorixá, Babalossain, Babaojé, Bikkhu, Bikkuni, Cambono, Curimbeiro, Dabôce, Dada voduno, Dáia, Daiosho, Deré, Dom, Doné, Egbonmi, Ekêdi, Gaiaku, Gãtó, Gheshe, Humbono, Hunjaí, Juntó, Instrutor de Curimba, Iyakekerê, Iyalorixá, Iyamorô, Iyawo, Izadioncoé, Kambondo pokó, Kantoku, Kunhã-karaí, Kyôshi, Lama budista tibetano, Madrinha de umbanda, Mameto ndenge, Mameto nkisi, Mejitó, Meôncia, Monge budista, Jushoku, Mosoyoyó, Muézin, Muzenza, Nhanderú, Arandú, Nisosan, Nochê, Oboosan, Olorixá, Osho, Pagé, Pastor evangélico, Pegigan, Rabino, Rimban, Roshi, Sacerdotisa, Sheikh, Sóchó, Sokan, Swami, Tata kisaba, Tata nkisi, Tateto ndenge, Toy hunji, Toy vodunnon, Upsaka, Upasika, Voduno, Vodunsi, Vodunsi poncilê, Xeramõe, Xondaria, Xondáro, Ywyrájá'. Para essa 'ocupação' existe sim, ao contrário dos ocupantes de cargos no Executivo e no Legislativo, áreas de atividade perfeitamente definidas: 'Áreas de Atividades A. Realizar liturgias, celebrações, cultos e ritos; B. Dirigir e administrar comunidades; C. Formar pessoas segundo preceitos religiosos das diferentes tradições; D. Orientar pessoas; E. Realizar ação social junto à comunidade; F. Pesquisar a doutrina religiosa; G. Transmitir ensinamentos religiosos; H. Praticar vida contemplativa e meditativa; I. Preservar a tradição'. Clicando-se sobre cada uma delas é possível acessar as atividades específicas. No caso da letra 'A', pode-se encontrar 'realizar oferendas e sacrifícios (animais)', e também 'realizar Ipomri (culto à placenta)', ou 'conduzir a cerimônia do Zikr' e 'receitar o Ifá'. Já quanto à letra 'B', temos 'consultar as divindades espirituais para dirigir comunidades' e também 'consultar o oráculo sagrado' e 'aplicar o oráculo sagrado' e, até, 'determinar cargos hierárquicos via oráculo', chegando a 'buscar recursos financeiros (dízimos, ofertas, empréstimos etc.). Como se vê, com exceção da parte dos sacrifícios de animais, já que jamais associaríamos os contribuintes a animais sacrificados no altar da receita governamental, os demais itens serviriam, como uma luva, para preencher as atividades do Legislativo e do Executivo, ao menos na parte referente à contratação e indicação de pessoal para preenchimento dos cargos de confiança e aconselhamento para dirigir a nação, além de preciosos conhecimentos e orientação sobre o orçamento nacional, sempre tão cabuloso a resolver. Quanto à letra 'D', orientar pessoas, vale tudo, desde 'orientação pastoral', até 'aconselhamento pessoal ou familiar', ou 'jogar búzios', ou 'fazer direção espiritual', ou 'consultar ancestrais, divindades ou entidades', ou 'fazer interpretação de sonhos’, ou 'evocar ou despertar a memória ancestral'. Para exercer as profissões, ou ocupações enumeradas no início, serão necessários 'recursos de trabalho', sem os quais nada feito. E o CBO os lista, com muito esmero. Além dos conhecidos livros sagrados, indicados como 'ferramentas mais importantes', como a Bíblia, o Alcorão, os textos budistas, textos sutras etc., ainda incluir, entre os mais importantes, animais, paramentos, chocalhos, incensos, pão, vinho e óleo. De menor importância, mas é bom ter, também, estão os ícones, a cruz, o altar, o popyguá, o anguá, o takuapú, o iwyrai e o nenju. Nunca se sabe se vai precisar. Ah! E música, música mística, para criar um ambiente. Ah! E já que estava consultando padres e assemelhados, notei a ausência, na relação dos assemelhados, do sacristão, motivo pelo qual pesquisei, isoladamente, o verbete sacristão, encontrando-o entre os trabalhadores nos serviços de administração de edifícios, quem diria. E, em sua área de atividades específicas, está acender e apagar lâmpadas, verificar o fechamento de portas, prevenir incêndios, conter tumultos, acionar a polícia, ornamentar a igreja etc. Não sei porque. Talvez não tenha nada a ver. Mas, cada vez que consulto o CBO, a Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego, me lembro, com saudades, de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, e de seu memorável 'Samba do crioulo doido', que explicava, com a precisão dos samba-enredos, a história do Brasil. Colaborador do Febeapá, foi autor de muitas frases imortais, dentre elas: 'Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante'. Por isso, vou continuar estudando, exaustivamente, o CBO. E aprendendo, sempre, cada vez mais. Não vou me conformar com desconhecer esse mundo de conhecimento que se abre para mim, ainda que, também segundo Stanislaw Ponte Preta, 'ser imbecil é mais fácil'." Envie sua Migalha