Nova História

26/9/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Socialismo do Século XXI no Brasil. 'Nova História Crítica', 50 mil escolas já receberam essa coleção, compradas que foram pelo MEC, em 2005. Já foram distribuídos 9 milhões de exemplares. Segundo a editora, 'é o maior sucesso editorial dos últimos 500 anos'. O autor, Mario Schmidt, procurado pela reportagem de O Estado de S. Paulo, não quis dar entrevistas. Tudo começou um pouco tarde, com um artigo do jornalista Ali Kamel, publicado no jornal O Globo, que transcreveu trechos da publicação que, segundo o articulista, ao invés de ensinar história, engana nossas crianças, trabalha suas cabeças de forma deletéria, cujo efeito se fará sentir no curso dos anos. Uma verdadeira lavagem cerebral (clique aqui). E pedia providências do Ministério da Educação. Como disse em meu comentário anterior, comprei a coleção, para confirmar, paguei R$ 353,00. Não ganhei do MEC, como as crianças, e li os livros nesse final de semana. Além do que Ali Kamel denuncia, há passagens que são, no mínimo, cretinas. O famoso quadro de Pedro Américo, que retrata a Proclamação da Independência é, em um dos livros, comparado a um anúncio de desodorante, com ‘aqueles sujeitos levantando a espada para mostrar o sovaco'. D. Pedro II é apresentado como um 'velho esclerosado e babão'. Já a Princesa Isabel é uma mulher 'feia como a peste e estúpida como uma leguminosa'. O Conde D’Eu é um 'gigolô imperial'. E, para despertar a capacidade crítica das crianças - como explicam os editores - são feitas perguntas do tipo: quem acredita que a escravidão negra acabou por causa da bondade de uma princesa branquinha, não vai achar também que a situação dos oprimidos de hoje só vai melhorar quando aparecer algum principezinho salvador? Já Mao Tse Tung, um assassino frio e estuprador de jovens como aparece nas biografias de hoje, é apresentado como um grande estadista, que 'amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido'. A revolução cultural chinesa, uma das maiores insanidades que o mundo já presenciou, é apresentada como 'uma experiência muito original' e a ditadura de Fidel é elogiada, a começar pelos fuzilamentos no Paredón. A derrocada da União Soviética é explicada como causada pelas pessoas que tinham inveja da classe média dos países desenvolvidos, e que 'queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas e jóias'. No que toca às distinções ideológicas, a obra se supera ao definir o capitalismo como o regime onde 'terras, minas e empresas são propriedade privada e as decisões são tomadas pela burguesia que busca o lucro pessoal' enquanto que no socialismo, ‘terras, minas e empresas são pertencentes à coletividade e as decisões são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o bem estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade, para agradar toda a população’. Não há em toda a coleção, nenhuma menção aos milhões assassinados pelo regime de Mao, nem ao arquipélago Gulag do regime soviético e nem ao fracasso do socialismo e do comunismo. Em outra parte, um dos livros menciona que o MST 'tornou-se um importante instrumento na luta pela justiça social no Brasil no começo do século XXI. Seu objetivo é simples: Terra para quem trabalha, no país onde há tanta terra na mão de quem não trabalha'. E não faltam elogios a Cuba e ao regime de Fidel, com perguntas do tipo: 'Cuba é um país pobre que conseguiu bons resultados no campo da educação e da saúde'. Porque o Brasil, que tem uma economia mais industrializada e uma renda per capta superior à cubana, ainda não alcançou esses resultados? Em outras palavras, não obstante todas as acusações a Ali Kamel e a seu artigo, a verdade é que ela acabou por ser, agora, rejeitada pelo MEC, reprovada na escolha dos livros a serem comprados pelo Ministério entre 2008 e 2010, em razão de seus evidentes erros conceituais, falhas de informação e incoerência metodológica. Mas, o que acontece é que, a essa altura, o governo já gastou 12 milhões em compras anteriores, distribuindo esses livros a cerca de 20 milhões de crianças, que foram submetidas a essa autêntica lavagem cerebral, oriunda de uma caudalosa onda de grosseiras falsificações da história, que jamais deveriam ter passado por salas de aula. Mais uma vez o MEC acordou tarde e permitiu, por inércia, que crianças fossem submetidas a propaganda ideológica, pelo uso de obras de evidente desonestidade intelectual, só se movendo quando denúncias vem a público, quando o mal já está consumado. A editora, é claro, não se conforma com a rejeição da 'obra', e nem com a perda do filão que isso representava no seu faturamento. E nem se conforma com as críticas que lhe fazem pela subliminar lavagem cerebral das crianças das escolas das 5ª a 8ª séries no Brasil, no arremedo da educação bolivariana levada a efeito por Chávez na sua Venezuela a caminho do canhestro socialismo do século XXI imposto à força naquele país. E, apesar de se sentirem no direito de alterar, desonestamente a história do Brasil e do mundo, através de sua história crítica, não aceitam críticas, o que é, no mínimo, estranho. É o que aconteceu, por exemplo, com a crítica que lhe fez Reinaldo Azevedo, em seu Blog, imediatamente atacado pela editora, o que provocou pronta resposta (clique aqui). Mas, como se disse, a 'obra' em questão já foi devidamente rejeitada pelo MEC, e não mais será comprada, pelo que as crianças de 5ª e 8ª série estão livres das baboseiras que pretendia incutir nas mentes em formação."

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