Lei da Homofobia

"Migalheira Rita: (i) quanto às religiões, leia o que acabei de escrever pela enésima vez sobre interpretação religiosa e PLC 122/06. (ii) No mais, quem extrapola é a Dra. ao dizer que no carnaval tradicional não haveria situação idêntica à que ocorre com o Gay Day que a Dra. tanto se chocou. Quando a Dra. decidir passar pelos carnavais brasileiros verá diversos casais heterossexuais se beijando apaixonadamente, com mãos se tocando de todas as formas (evidentemente sem atentados ao pudor, que também não ocorrem entre gays no Gay Day) e daí por diante. Eu vou no Gay Day desde 2003 (só em um desses anos não ocorreu naquele parque, 2005 salvo engano) e nunca vi nada de absurdo como a Dra. diz ter visto. Mas se a Dra. não consegue conceber dois gays se beijando (beijo de língua) da mesma forma que héteros se beijam, aí já são outros quinhentos... E o parque não é só infantil, tanto que adultos o freqüentam rotineiramente. (iii) Inacreditável, agora a Dra. vai dizer que não existem pessoas (gays ou héteros) ‘sem-noção’?! Existem héteros sem noção, gays sem noção e bissexuais sem noção, que têm posturas, digamos, mais lascivas em público do que as pessoas em geral, mas isso ocorre independentemente de orientação sexual, como é evidente. Também vou na Parada GLBTT desde 2003 e nela nunca vi nada de excepcional. Sim, há pessoas que exageram, como no carnaval há héteros que também exageram, mas isso não ocorre por parte da maioria. (iv) Homossexuais só são considerados um 'grupo de risco' por preconceituosos, visto que a transmissão de DSTs ocorre por 'prática' de risco, que é o sexo inseguro (sem preservativo), independentemente do sexo da pessoa com quem você se relacione sexualmente. A proibição de homens que tenham feito sexo com outros homens da Resolução 153/04 da ANVISA é flagrantemente inconstitucional por desproporcional e arbitrária em razão disso: sexo com preservativo não gera contaminação, independentemente se com pessoa do mesmo sexo ou de sexo diverso. Tanto a ANVISA sabe disso que só proíbe héteros de doar sangue quando estes tiveram sexo sem preservativo nos últimos doze meses, mas arbitrariamente não permite que homossexuais que tenham parceiro(a) fixo(a) e/ou tenham tido apenas sexo seguro nos últimos doze meses doem sangue, o que é, repito, puramente arbitrário. (v) O que o fato de se distribuírem preservativos na Parada tem a ver com promiscuidade? Isso serve como campanha de conscientização contra DSTs, apenas, e caso a migalheira feche os olhos à realidade também aqui devo apontar-lhe que homossexuais não se identificam como tais em geral, donde campanhas voltadas a este público em geral são feitas nas Paradas e/ou eventos específicos. O estúpido inconsciente coletivo homofóbico segundo o qual AIDS seria uma 'doença gay' pegou, a homofobia funcionou tanto que campanhas voltadas ao público GLBTT volta e meia têm esse viés das DSTs, o que não significa que seriam 'mais promíscuos' do que héteros. Se evangélicos não fazem campanhas desse tipo 'Marcha pra Jesus' (que coincidentemente (?) só foi pra Paulista quando a Parada ganhou vulto) isso não significa nada em termos de homossexualidade, como deveria ser óbvio. E engraçado a migalheira usar a pregação de fidelidade do cristianismo como salvo-conduto moral a cristãos quando ignora que os mesmos cristãos ao longo dos séculos cometeram adultérios... Mas esses inconvenientes a Dra. ignora, evidentemente... (vii) Que relação tem doença de chagas com orientação sexual? Ademais, ao dizer que seria algo 'perfeitamente evitável', a Dra. que ignora que orientação sexual independe de sugestionamento e não é passível de 'opção', mas se prefere continuar com subjetivismos contra constatações fático-empíricas, bem, não há o que se fazer... (viii) Só pensa que a maioria dos gays seria 'sem-noção' quem generaliza a todos ou à maioria dos homossexuais aquilo que vê em casos particulares, sendo que a generalização é algo completamente arbitrário e descabido como venho apontando há tempos..."