Lei da Homofobia 15/10/2007 Paulo Roberto Iotti Vecchiatti - OAB/SP 242.668 "Migalheiro Dávio: (i) começando pelo fim, sobre sua retirada do debate: em nenhum momento eu deturpei o significado de suas falas, pelo menos não deliberadamente (você não disse quem o teria feito, apenas estou deixando claro), apenas refutei (Migalhas dos leitores – "Lei da Homofobia" – clique aqui); (ii) ainda pelo fim, espero que a afirmação de 'ausência de temperança', de ausência de 'reconhecimento pessoal de que podemos estar errados' não tenha sido direcionada a mim. Se você diz que a cada dia que passa se convence do descabimento do PLC 122/06, a cada dia que passa eu me convenço da necessidade do projeto pelos motivos que tenho exposto. Eu também busco a verdade e não tenho problema nenhum em admitir que estou errado, mas apenas se me convencerem de que o estou, ao passo que não me convenci disso até agora apesar das manifestações dos migalheiros contrários ao que defendo; (iii) quanto a seu entendimento sobre orientação sexual, agora ele me ficou claro. Se já estava e eu não o compreendi anteriormente, peço desculpas. Ocorre que temos visões bem distintas da questão, pois eu não o considero uma 'invenção', o considero real e correto, dada a ausência de provas em sentido contrário; (iv) no mais, você foi bem lúcido ao reconhecer que realmente o desejo homoafetivo permanece na pessoa que se diz 'ex-gay' mas que esta pessoa reprime seu desejo por ato de vontade (seja ou não pautado pela fé, acrescento). A única opção que tem a pessoa em termos de sua orientação sexual é se a viverá em sua plenitude ou se a reprimirá. No caso de homossexuais, a opção existente é a de aceitar sua homoafetividade e manter relacionamentos homoafetivos ou reprimir sua homoafetividade e se tornar celibatário(a) ou então se forçar a um relacionamento heteroafetivo. Isso vale aos heterossexuais, no caminho inverso. Só acho descabida a comparação entre o desejo homoafetivo com gula, luxúria, ira etc ao passo que não se faz a comparação do desejo heteroafetivo com gula, luxúria, ira etc, afinal ambas são orientações sexuais igualmente dignas e sem nenhuma relação com promiscuidade, pedofilia, falta de caráter etc. Quando eu digo que não há 'opção sexual' o digo justamente no sentido de que o desejo homoafetivo (ou heteroafetivo) permanece na pessoa apesar dela não mais praticá-lo. Há uma sublimação, uma repressão, pois ele continua lá. É nesse sentido que o tenho dito, pensava que isso estava claro, mas foi boa sua colocação para essa explicação. É evidente que é possível uma pessoa sublimar sua verdadeira orientação sexual e eu nunca vi nenhum militante gay dizer o contrário. Mas penso que 'o gay que tenha de fazer abstração de sua preferência sexual para se sentir aceito socialmente vivencia isso como a mais intolerável das humilhações' (frase de Olavo de Carvalho); (iv) repito que nunca houve provas de que a homossexualidade fosse uma patologia, mas apenas preconceitos e, no máximo, generalizações de neuroses existentes em homossexuais a todos os homossexuais ao passo que não se generalizavam neuroses existentes em heterossexuais a todos os heterossexuais – dois pesos e duas medidas. Assim, a retirada da homoafetividade da Classificação Internacional de Doenças foi medida de justiça, pois só se deve considerar como doença algo comprovadamente patológico, prejudicial à saúde humana, prova esta que nunca existiu em face da homossexualidade. Nunca se provou porque a 'psique humana saudável' seria apenas a heterossexual. Agora manifesto-me na ordem de suas colocações, primeiramente sobre o artigo de Olavo de Carvalho: (ii) cuidado com a definição de 'gayzista' (sic) de Olavo de Carvalho: não é porque alguém defende o PLC 122/06 que seria um 'gay nazista', defende-lo é um ponto de vista no mínimo defensável ante todas as razões que expus nesse debate; (iii) também Olavo de Carvalho generaliza a todos os homossexuais as afirmações de Luiz Mott. Cabe aqui a mesma crítica, não se criam verdades universais de casos particulares; (iv) alguém que critique a lei criada pelo PLC 122/06 (se aprovado) que incidirá no crime, apenas se ofender homossexuais, como tenho dito exaustivamente; (v) repito, 'o gay que tenha de fazer abstração de sua preferência sexual para se sentir aceito socialmente vivencia isso como a mais intolerável das humilhações' (frase de Olavo de Carvalho); (vi) criticar alguém por sua mera homossexualidade é tão esdrúxulo e descabido quanto criticá-lo(a) por sua mera heterossexualidade – sexualidade não tem nenhuma relação com promiscuidade, pedofilia, criminalidade nem com caráter, como tenho dito também exaustivamente; (vii) gays não são perfeitos, são tão humanos quanto héteros, logo podem cometer erros e ter atitudes descabidas, mas não é por isso que todos os homossexuais seriam assim da mesma forma que não é porque parte dos héteros o são que todos o seriam; (viii) Olavo de Carvalho diz que a mulher que se deite com quinhentos homens já abre mão de sua respeitabilidade para fazer um paralelo com Luiz Mott. A questão, penso, é que Olavo de Carvalho só esqueceu de citar o exemplo do homem heterossexual que deite com quinhentas mulheres: esse quase nunca é mal visto por isso. Ou seja, enquanto o homem hétero que fica com quinhentas é vangloriado, a mulher (hétero ou lésbica) e o homem gay são tachados de promíscuos. Nova hipocrisia social; (ix) não conheço a militância homossexual que trabalha com a prevenção da AIDS, mas o que posso dizer é que há sempre campanhas e informativos (flyers que sejam) de prevenção à AIDS em eventos oficiais – como disse, o estúpido e homofóbico inconsciente coletivo de ligação entre AIDS e homossexualidade pegou, donde esta é uma das grandes preocupações da militância. É evidente que pode haver alguns grupos que não estejam fazendo seu trabalho adequadamente, mas isso não quer dizer que todos não estariam." Envie sua Migalha