Lei da Homofobia

15/10/2007
Paulo Roberto Iotti Vecchiatti - OAB/SP 242.668

"Sobre o artigo de Júlio Severo, ele faz uma simplificação de idéias facilmente refutável caso se tenha em mente um 'pequeno' detalhe: quando o movimento homossexual afirma que o Brasil é campeão mundial de homofobia em virtude do número de homossexuais assassinados ele o faz em virtude desses crimes terem ocorrido por ódio homofóbico. Nenhum heterossexual é assassinado por ódio heterofóbico, ao passo que há uma enormidade de homossexuais assassinados por ódio homofóbico. Aí está a grande questão que foi completamente ignorada (sem intenção, imagino) por Júlio Severo. Logo, o número de aproximadamente dois mil homossexuais assassinados não pode ser menosprezado em comparação com os aproximadamente oitocentos mil restantes, visto que: (a) os dois mil foram assassinados por ódio homofóbico, ao passo que (b) os oitocentos mil foram assassinados por motivos de violência urbana, como assaltos mal-sucedidos, latrocínios, vítimas de balas perdidas ou mesmo mau-caráter dos assassinos que mataram por matar. Homossexuais também são vítimas desses crimes, mas, repito, quando se diz que o Brasil é campeão mundial de homofobia se o diz por ser o país com maior número de agressões e mortes por ódio homofóbico. Isso já põe por terra todo o artigo de Júlio Severo. No mais, não é porque homossexuais sejam 14% da população que de todos os assassinatos 14% seriam de homossexuais: a comparação é totalmente descabida, uma coisa não tem nenhuma relação com a outra, assassinatos podem ocorrer apenas contra determinado grupo de pessoas ou apenas em determinada região sem que ocorra com outro grupo ou em outra região. Logo, ninguém prega que só seriam vítimas os homossexuais, apenas se chama a atenção para o elevado número de agressões (físicas e verbais) e homicídios por ódio homofóbico, nada mais. Tenho dito exaustivamente que homossexuais são tão humanos quanto heterossexuais, logo tão imperfeitos quanto, donde é evidente que existem homossexuais criminosos, mas isso não tem absolutamente nenhuma relação com o que se discute, pois aqui se debate homofobia e não criminalidade em si. Os criminosos gays não agridem ou assassinam heterossexuais por heterofobia, mas há uma enormidade de casos de agressões e assassinatos em virtude de homofobia. Júlio Severo fala da violência doméstica homossexual e os crimes passionais cometidos por homossexuais, mas e a violência doméstica heterossexual e os crimes passionais cometidos por heterossexuais, que sempre existiram em grande quantidade ? Não são coisas que praticamente nunca acontecem, donde a colocação do autor nesse sentido é inócua, pois sexualidade também não tem nenhuma relação com violência doméstica e passionalidade, como é ou deveria ser evidente. É impressionante como as pessoas fazem relações esdrúxulas entre homossexualidade e posturas condenáveis. A homossexualidade de criminosos nunca foi acobertada, aliás ela sempre foi divulgada. Ninguém fala 'hétero pedófilo' quando prendem um hétero por pedofilia, mas apenas 'pedófilo', mas quando prendem um gay geralmente se fala em 'gay pedófilo'... É inaceitável a colocação de culpa da transmissão da hepatite B à homossexualidade. Vejam os dois pesos e duas medidas: fala-se em 'homossexuais e heterossexuais 'promíscuos'' – ora, por essa comparação está-se a dizer que todos os homossexuais seriam promíscuos, o que é absurdo, o cúmulo do preconceito hipócrita que tanto tenho apontado aqui – dois pesos e duas medidas, pois enquanto não se generaliza a promiscuidade a toda a heterossexualidade pela existência de héteros promíscuos generaliza-se a promiscuidade a toda a heterossexualidade pela existência de gays promíscuos. Verdadeiro absurdo! Isso vale também na colocação de que a homossexualidade teria sido responsável pela propagação da AIDS, em verdadeiro desafio à inteligência. Ora, é o sexo inseguro (sem preservativo) o responsável pela propagação de doenças sexualmente transmissíveis (DST's), não o sexo da pessoa com quem se tem relação sexual. Não importa o número de relações sexuais que se tenha, se em todas elas se utilizar o preservativo então a pessoa nunca será infectada. Isso vale para gays, héteros e bissexuais. E de novo o autor liga promiscuidade a homossexualidade embora não o faça com heterossexualidade apesar da também grande quantidade de héteros promíscuos. Direito dos pais de evitar que seus filhos sejam vítimas de 'aliciamento homossexual' ? Aparentemente é outro que acha que orientação sexual seria algo passível de 'sugestionamento' e/ou 'opção', em total descaso à realidade empírica. Além disso, repito: criticar alguém por sua mera homossexualidade é tão descabido quanto criticá-lo por sua mera heterossexualidade. Nenhum homossexual brasileiro diz que a situação do gay brasileiro é pior que a de outros países onde a homossexualidade (nem a homoafetividade, a manutenção de relacionamentos, mas a homossexualidade em si) é proibida, acontece que não é porque lá fora é pior que vamos nos contentar com a situação ruim que temos aqui em termos de direitos."

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