As bebidas de Lula

14/5/2004
José Renato M. de Almeida - Salvador - Bahia

"A imprensa, TV, ABI, OAB, políticos e os demais segmentos institucionais e sociais, condenaram o governo federal pela desproporção da medida tomada para punir o jornalista Larry Rohter, do jornal New York Times, domingo, 9/5/04. Creio que, quanto a isso, todos estamos acordo. Em contrapartida, ninguém propôs uma investigação, nem questionou que motivações e intenções levaram um jornalista com experiência internacional, em jornal de categoria mundialmente reconhecida, a publicar uma reportagem que não seria aceita em qualquer redação que tenha um mínimo de responsabilidade e controle de qualidade. Surpreende que, até agora, nenhum jornalista entrevistou Larry Rohter ou os editores para tentar apurar como foi possível que uma matéria de tablóide fosse inserida com destaque no NYT. Se os jornalistas, através de suas associações e conselhos de ética, preocupam-se de fato com a defesa da liberdade de imprensa e com sua credibilidade ante a opinião pública, deveriam ser eles mesmos os primeiros a investigar esse tipo de matéria - aparentemente graciosa e sem maiores preocupações - visivelmente preparada para denegrir a imagem de Lula, com manchete, foto e insinuações matreiras. A mais grave dessas levianas insinuações é a de que o pai de Lula - além de alcoólatra - "abusava dos filhos". Quem conhece o poder da imprensa e das empresas de comunicação, conhece também as diversas formas de desconstruir a imagem de uma pessoa e reconhece que isso não pode ser produzido sem a conivência dos editores e diretores. Isso foi explicitamente ratificada durante a visita do embaixador do Brasil ao escritório do jornal em New York, que considerou a reportagem normal e consistente. Na escalada do deboche o jornal se dispôs a receber o Presidente Lula quando em sua próxima viagem aos EUA. Além de denegrir e debochar os responsáveis pelo jornal ainda pretendem obter uma reportagem exclusiva. É a prepotência explícita! A Justiça brasileira, no decorrer do processo que questiona a legalidade do cancelamento do visto, tem a melhor oportunidade de obter de viva voz do experiente jornalista as motivações ou causas que o levaram a emitir um texto tão sofrível em todos os aspectos. Cada um imagina quais sejam, mas vale a pena esclarecer com o autor da reportagem como faria um bom jornalista. As associações e os Conselhos de Ética dos jornalistas brasileiros e internacionais podem fazer muito mais em defesa da profissão e da perseguida credibilidade, inquirindo ou processando os profissionais que violentam a ética e envergonham a classe."

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