Canibalismo 22/10/2007 Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL "De novo em cena Armin Meiwes, o canibal Armin Meiwes, o canibal alemão, condenado em 2006 por ter matado e comido Bernd Brandes. O caso veio à luz em 2002, com as repugnantes cenas filmadas por Meiwes matando e retalhando Brandes, que conhecera em salas de bate papo na Internet. O caso voltou à cena agora, em razão do lançamento do livro que Gunter Stampf, 'Entrevista com um canibal', baseado em 30 encontros com o canibal na prisão. A par do horror do caso, ele tem aspectos de interesse legal, de vez que, como no Brasil, o canibalismo não é considerado crime na Alemanha. Revela profundo desvio de personalidade, mas não é crime em si. Além do mais, o crime não foi considerado homicídio qualificado, pois contou com o assentimento da vítima, o que o desqualificou para homicídio simples. Na Alemanha, a pena para esse delito é de 5 a 15 anos. No Brasil, de 6 a 20 anos. O consentimento da vítima não afasta o homicídio, mas é algo a ser levado em conta no momento da fixação da pena. E foi o que, de fato, ocorreu. O canibal alemão foi condenado a 8 anos e meio de prisão, pelo Tribunal de Kassel, no centro da Alemanha. O Ministério Público havia requerido a prisão perpétua, por homicídio qualificado, enquanto a defesa pedia a condenação por homicídio a pedido da vítima, crime punido com o máximo de 5 anos de prisão. A justiça ficou diante de um dilema, justamente pelo fato de que o crime de antropofagia não é previsto no código penal alemão. Condenado a 8 anos e meio de prisão, o réu poderá cumprir apenas 5 anos, se lhe for atestado bom comportamento, o que parece ser provável de acontecer, já que Meiwes é um cidadão calmo e reservado, e cumprirá a pena em uma penitenciária regular e não em uma prisão psiquiátrica, já que os exames psiquiátricos o consideraram perfeitamente capaz e imputável por seus atos, não obstante tenha um fetiche por carne humana, perturbação da personalidade que, todavia, não pode ser considerada uma doença. Tudo começou na Internet, nesses Chats de conversação, quando Meiwes se deparou com um cozinheiro que oferecia dois ajudantes para serem degustados. Mas a coisa não pareceu a Meiwes, para quem um banquete desse tipo só teria sentido se a vítima estivesse de acordo. E foi nesse Chat que veio a conhecer Brandes, um engenheiro de Berlin, que se declarava bissexual, e mencionava certos comportamentos sexuais com violência e tortura. Encontraram-se em um fim de semana e, em um novo encontro, após 3 horas de conversação, Brandes propôs a Meiwes que lhe amputasse o pênis, o que foi feito. Cortado em dois pedaços, que foram fritos com pimenta, sal e alho, ambos degustaram a iguaria, com enorme satisfação e felicidade. Na seqüência, Meiwes esfaqueou Brandes, esquartejou-o enquanto filmava toda a operação, conservando os pedaços em congelador para, depois de dois dias, começar a comê-los. 'A primeira mordida foi peculiar ? afirmou Meiwes na entrevista ? um sentimento indefinível, porque eu ansiava por isso durante 30 anos, uma conexão íntima que se tornaria perfeita por meio dessa carne'. Para esse primeiro banquete, Meiwes se esmerou: 'Refoguei o filé Bernd com sal, pimenta, alho, noz-moscada. Eu o comi com croquetes, couve-de-bruxelas e um molho de pimenta verde'. Na residência de Meiwes foi feita uma devassa, na qual foram apreendidos 16 computadores, 221 discos rígidos e 307 vídeos com conteúdos relacionados a práticas canibais, incluindo a morte de Brandes. Pelos registros dos computadores, a polícia descobriu que as fantasias canibalescas de Meiwes eram compartilhadas por mais 430 pessoas. Na verdade, Meiwes não está sozinho, e nem é somente na Alemanha que casos assim acontecem. Recentemente, um escritor e poeta mexicano, José Luis Calva, foi surpreendido em flagrante quando cozinhava, em fogo baixo, o braço regado com limão de sua namorada, cujo corpo esquartejara 2 horas antes. Na geladeira, a polícia encontrou uma perna e, em um armário, o tronco da moça, uma jovem farmacêutica de 30 anos. Além disso, o texto de uma novela, de autoria do canibal, ainda não concluída, com o sugestivo título 'instintos canibais'. A existência do canibalismo vem gerando discussões no mundo da Antropologia há muitos anos, tendo sido estudada a prática através dos séculos, por diversas culturas, inclusive quanto aos casos de 'canibalismo de sobrevivência', quando comer carne humana torna-se absoluta necessidade nutricional, ou quando se trata de consumo ritualístico, ou mesmo quando ocorra de forma consensual. Mas, já no passado, aconteceram casos de canibalismo ligados a contexto sexual. Na década de 20, nos Estados Unidos, Albert Fish estuprou, matou e devorou várias crianças, afirmando ter encontrado grande prazer sexual em seus atos, assim como o russo Andrei Chikatilo, que matou pelo menos 53 pessoas entre 1978 e 1990, praticante de canibalismo com conotações sexuais. No caso de Meiwes, além da conotação sexual, o que o diferenciou dos casos em geral foi a natureza consensual, já que seus anúncios na Internet buscavam 'jovens corpulentos, entre 18 e 30 anos, para serem abatidos'. Há canibais que são verdadeiros perfeccionistas, como Iishat Kurikov, que matou 3 pessoas em São Petesburg e as comeu. Depois, no Centro de Detenção local, explicava ao psiquiatra: 'já provou essa receita ? Primeiro, frite a carne no óleo. Depois, em outra panela, misture com as cebolas, um pouco de água e deixe em fogo lento por uma hora'. Em seu apartamento, a polícia encontrou um livro de receitas de como fazer hamburgueres com cachorros e gatos, ou o fígado de um amigo transformado em um tradicional prato russo. Kurikov era seletivo: jamais comia braços, cabeças, intestinos ou genitálias. Ainda na Rússia, Nikolai Sergei Dzhurmongaliev, considerado o 'rei dos canibais soviéticos', comeu mais de 100 pessoas, todas mulheres. Dono de um restaurante, consta que serviu carne de pelo menos 47 mulheres como pratos típicos da República Soviética do Kazaquistão. Quando foi preso, confessou com orgulho que o ingrediente secreto de seus raviólis era ruivas de olhos azuis. Na opinião de Dzhurmongaliev, as mulheres e as prostitutas eram a raiz de todos os males do mundo. Não obstante, segundo a polícia, ele parecia 'absolutamente normal, afável e simpático'. A verdade é que através da história, muitas culturas utilizaram o rito de comer carne humana. Os astecas, por exemplo, consumiam carne humana que eram sacrificadas de acordo com rituais religiosos. Hoje em dia o canibalismo está proscrito. Mas há quem afirme que cientistas descobriram indícios da prática em nosso genoma, com traços de 500 mil anos. E mais, que os seres humanos têm 65% de sua carne aproveitável, quando em bovinos esse índice cai para 35%. Em 1981, Issei Sagawa assassinou, em Paris, uma jovem holandesa que lhe dava aulas de alemão. Depois de morta, violentou-a e comeu seus glúteos, músculos e lábios. Pela televisão inglesa, depois de preso, informou: 'Só queria conhecer o sabor da carne humana, da carne de uma mulher jovem e atraente. Quando alguém se enamora de uma mulher, o normal é que queira beijá-la. Para mim é a mesma coisa. Só que quis prová-la. Sou um canibal. É uma obsessão'. Considerado louco na França, foi deportado para o Japão, onde vive em liberdade. Participou até de um filme pornô no qual faz críticas gastronômicas a certos restaurantes da capital japonesa. E, para terminar, vale referir um restaurante, no Japão, talvez um dos preferidos do jovem Issei Sagawa, no bairro de Roppongi, em Tókio, para clientes abastados, onde o cidadão escolhe o animal que vai comer, ainda vivo (pode ser uma galinha, um porco ou uma cabra), faz sexo com ele e, a seguir, o bicho é morto, cozido e servido para o jantar. Não sei como seria em Japonês, por exemplo, leitão estuprado a pururuca. Essa última informação, é claro, foi só para descontrair." Envie sua Migalha