Beduínos 7/11/2007 Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL "Não bastasse a vida dura dos desertos no oriente médio, outros perigos afligem, ainda, a vida dos beduínos na península do Sinai. Na verdade, apesar de ter sido lá o centro da guerra dos seis dias, em que Israel ocupou o território, passada essa fase, a península é conhecida por ser região farta em poços de petróleo, ouro e minerais. Por lá passaram, no passado, todos os profetas e, segundo a Bíblia, foi no Monte Sinai que Deus entregou a Moisés os Dez Mandamentos, de modo que a legislação religiosa é bastante rígida. E foi lá, justamente lá, que um beduíno resolveu dirigir galanteios a uma moça que trabalhava em uma fazenda. Melhor explicando, passava ele de carro e, ao ver a moça trabalhando com o gado, lançou uma série de elogios a seus atributos físicos, o que aqui se chama de uma 'cantada', ou o início de uma 'paquera'. Na pior das hipóteses, assediou-a. Acontece que ela pertencia a outra tribo. O beduíno foi preso e levado a julgamento. Em um primeiro momento, os juízes ordenaram que o infrator tivesse a língua cortada, punição que lhes pareceu bastante apropriada pois que desta forma estaria impedido de voltar a delinqüir. É que, pelos costumes locais, o pedido de namoro não é uma coisa fácil. Tem de seguir um rito próprio. O pretendente tem de comunicar suas intenções a um intermediário que as passa à pretendida que, após analisá-lo, decide se aceita ou não. Com o risco da perda da língua, a defesa do jovem beduíno procurou desqualificar o delito, argumentando que 'o homem nunca manifestou qualquer interesse genuíno pela mulher e, se realmente quisesse, teria pedido a moça em namoro antes de fazer qualquer comentário indecoroso'. Após horas de negociação, três horas mais exatamente, ficou acordado que a língua seria trocada por 46 camelos, ou a entrega do valor correspondente, calculado em 80 mil libras egípcias (cerca de R$ 25 mil). Adicionalmente, o réu terá que se desfazer do automóvel, já que a cantada foi dada enquanto dirigia o veículo. Como se vê, as coisas lá não são como aqui, em que os jovens chegam e vão 'ficando', para saber, depois, se estão ou não namorando, e dirigir galanteios é quase um direito. Se bem que até Iara Bernardi, autora do PL 61, de 1999, explica que seu projeto, sobre assédio sexual, não implica em acabar com as cantadas, com a paquera, ou com qualquer expressão, desejo ou afeto: 'ninguém irá preso por cantar uma mulher ou vice-versa, por dizer galanteios, ou até por assoviar na rua quando alguém passa'. É claro que nessa questão há um alto grau de subjetividade, pois há países em que galanteios entre homens e mulheres, mais que aceitáveis, são até desejáveis e galanteios, ou simples comentários de admiração, ainda que impróprios, se exercidos sem qualquer tipo de vantagem, não configuram, propriamente, assédio sexual. A não ser, é claro, que assumam exageros tais, que mais que o mero assédio, tipifiquem outros tipos penais, como foi o caso do jovem serralheiro, Luis Miguel Gomes, em S. Pedro de Castelões, no vale de Cambra, em Portugal, que pretendendo pedir em namoro uma rapariga, em vez do habitual ramo de flores, compareceu armado à sua casa e, recebido pelo pai da moça, não hesitou em disparar contra seu abdômen. Paula, a pretendida, tentou socorrer o pai, quando o pretendente encostou-lhe a arma na cabeça e, novamente disparou quando, por sorte, a arma encravou. Tentou, então, estrangulá-la, sendo salva pela irmã que o atingiu na cabeça. Durante o inquérito, alegou que ‘tinha boas intenções’, mas que levara a espingarda porque previra que poderia 'encontrar problemas com os parentes'. Mas esse, com certeza, foi um caso extremo. Mas a verdade é que, mesmo em Portugal, de onde veio a notícia acima, é cediço que desde os primórdios da humanidade, 'o acto de mandar piropos sempre existiu, desde que o homem é homem e a mulher é mulher'." Envie sua Migalha