São Paulo 21/1/2008 Romeu A. L. Prisco "Ode à São Paulo (‘Non ducor duco’) Uma cidade completando 454 anos Outrora feudo dos barões do café Quando então reinavam soberanos Sem a presença dos camelôs da Sé. Às margens do grande rio fundada Agora, coitado, quase todo poluído Do imponente Tietê não sobrou nada Salvo um desaguar lento e inibido. Ao longo cortada por duas marginais Com a do Pinheiros também exibindo Um leito flumíneo cercado de capinzais Que nem assim deixa o rival sorrindo. Trânsito caótico dando o que falar De veículos a rodar sempre atrasados De pés e mãos em posição de acelerar De motoristas cada vez mais apressados. Terra da garoa, capital da fumaça Acusada até de ser túmulo do samba Quando Adoniran deu o ar da graça Pra mostrar que nela havia bamba. Berço de movimentos nacionalistas Alavanca de sentimentos e ideais Não tem preconceitos regionalistas E nem manifesta interesses materiais. Do Brasil é bravo e forte coração Determinado no incansável bater Nele o sangue de uma valente nação Se põe incessantemente a correr. Urbe cheia de contrastes e contradições De ricos e pobres, de fartos e carentes Sobra trabalho mas faltam colocações Sobra alimento mas faltam clementes. Já foi bucólica, romântica, lírica, vaidosa Com brancos e negros desfilando elegantes Belas damas fingindo não querer ouvir prosa De nobres cavalheiros, educados e galantes. Hoje é agitada, volúvel, atrevida, insegura Seus pichados edifícios, casas e favelas Estão à mercê de bandidos, que loucura Moradores trancados entre portas e janelas. Padre Manoel da Nóbrega sua história começou Desvendando a aldeia de Piratininga no batismo Padre José de Anchieta seu nascimento registrou Ambos preservando vivos os ideais do cristianismo. Mas não foi dádiva de Deus aos olhos humanos Pois é dádiva dos homens aos olhos de Deus De brasileiros, lusitanos e escravos africanos A imigrantes italianos, japoneses, árabes e judeus. Dessa autêntica miscelânea de raças e religiões Formada à luz da obra do jesuíta missionário Criou-se uma sociedade de múltiplas opções Que bem justifica a composição do seu cenário. Dele participam o parque-jardim da Aclimação O Brás, com seu comércio de máquinas e madeiras O Bexiga, satisfazendo o apetite do bom glutão O Cambuci com as suas tradicionais brincadeiras. A Vila Maria, quem diria, já foi abrigo de cartolas Na ironia de políticos em acirrada disputa eleitoral A Vila Mariana, nem se fala, prima por suas escolas Desde o ensino fundamental ao último grau cultural. O Paraíso e o Pacaembu se unem pela Avenida Paulista Maior centro financeiro do país e notório cartão postal Onde o MASP impera em pleno reduto capitalista E as emissoras instalam suas antenas de alcance mundial. O cruzamento das Avenidas Ipiranga e São João Imortalizado na voz do baiano Caetano Veloso Deixou até o velho paulistano quatrocentão Do seu torrão natal mais ainda orgulhoso. 'Non ducor duco', sucede o brasão da sua bandeira 'Não me conduzem, conduzo', assim se traduz O lema da metrópole que despontou altaneira Talhada para ser a líder que a todos conduz. São Paulo: amar-te passou a ser um grande sacrifício Odiar-te significa cometer enorme sacrilégio Mantenha-se acesa a chama fulgurante do teu início Conserve-se eterno teu sonho do Pátio do Colégio." Envie sua Migalha