Governo Lula

12/2/2008
Alexandru Solomon

"A respeito da tão elogiada transparência: O que permitiu a detecção do problema foi a transparência do governo. Não podem transformar isso em culpabilidade, sentenciou o ministro da Justiça, Tarso Genro. Então, tá. Quebrar o espelho elimina a possibilidade de visualizar a face marcada pela corrupção. Por falar em corrupção, o PT não se cansa de apresentar eufemismos para acalmar a plebe ignara, na tentativa de deixar a 'zelite' sem assunto. Convenhamos, 'recursos não contabilizados', 'erros administrativos' etc, reduzem a pecadilhos insignificantes os desvios de um dinheiro cujo dono não é o governo. E, para tornar mais confuso o meio-campo, a idéia vigente nas hostes governamentais é a obsessiva comparação com o governo anterior. Isso não passa de um terceiro turno ou, se assim preferirem, uma antecipação da campanha de 2010. É óbvio que, ao vasculhar as contas da administração tucana, serão encontrados desvios. Nem a falecida anciã de Taubaté contestaria isso. Como se esse fato trouxesse a absolvição automática dos 'erros' presentes! Ocorre que além de investigar, é preciso acabar com as 'práticas equivocadas' – para usarmos mais um eufemismo. Essas são perpetradas pelos detentores do Poder, e é esse foco infeccioso que se procura eliminar. Não se trata de estabelecer um ranking de falcatruas, transformando a farra atual numa série de ligeiros equívocos consagrados pela tradição 'republicana' – outro termo usado ad nauseam. Vamos primeiro debelar infecção para, depois, exumar e autopsiar cadáveres. Dito de outra forma – e para não fugir das metáforas, sempre presentes nos inflamados improvisos do nosso presidente – o bafômetro deve ser usado imediatamente com o condutor desse bonde chamado Nação, não com os motoristas aposentados. Quanto ao risível argumento da segurança nacional ou da segurança da primeira- família que impediriam qualquer investigação, há dois reparos. Quando o recém-eleito presidente Lula fazia questão de se misturar com a massa, ninguém se lembrou da tal segurança. Quando o presidente colocou, nos primeiros dias de seu primeiro mandato, toda a equipe ministerial num avião com destino a Guaribas, cidade símbolo do Fome - Zero, onde estavam os zelosos defensores da tese da segurança nacional?  O perigo representado pela divulgação de compras como uma esteira ergométrica, uma picanha especial ou determinada loção pós-barba parece tolerável. Ao serem divulgadas tais informações, a Pátria não correrá perigo algum. Basta lembrar que um Luís, anterior ao 'nosso Luiz', o tal rei Sol, além de não esconder os alimentos que Sua Majestade deglutia, deixava à análise dos peritos os produtos da real digestão, num real penico, à vista da Corte, num exemplo de transparência cuja aplicação presente não chega a ser recomendável."

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